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decorrer do século XIX: tempo da modernidade, tempo em que a perspectiva das
mulheres se altera, alargando-se o campo das possibilidades.
No dizer de Maria Rita Kehl, “a modernidade proporcionou um campo muito mais
vasto e variado para a constituição dos sujeitos do que os períodos imediatamente
precedentes; a tarefa de inscrever-se neste campo mobiliza as mulheres [...]”. 142 Ou,
noutras palavras, o século XIX, por um lado, marca a extrema codificação da vida
feminina: “uma vasta produção científica e filosófica, tentava, na Europa oitocentista,
explicar a mulher” 143 , sustenta a autora; mas, por outro, acenava às mulheres a
possibilidade de uma nova condição na História.
A ciência do século XIX, em proporções maiores que nos períodos anteriores,
dadas às circunstâncias políticas, econômicas e sociais da época, se apropria de um
discurso que confere verdades, “conjunto das regras segundo as quais se distingue o
verdadeiro do falso e se atribui aos verdadeiros efeitos específicos de poder”. 144
O poder atribuído às verdades do discurso científico encontra explicação numa
sociedade caracterizada pelo fenômeno da razão tecnocrata, pela ratio,
institucionalizada, burocratizada, condicionada a centrar suas verdades no discurso
científico e nas instituições que o produzem, pois a razão só pode funcionar
142
KEHL, Maria Rita. Deslocamentos do feminino. A mulher freudiana na passagem para a modernidade. Rio de
Janeiro: Imago, 1998, p. 35.
143
Idem, p. 35.
144
FOUCUALT, Michel. Microfísica do poder. Trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1979, p. 13.
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