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O século XIX foi marcado por novas demandas em relação à mulher. Se
reafirma-se o seu lugar aparentemente complementar à posição masculina, os ideais de
liberdade do indivíduo e autonomia do sujeito, gestados na esteira do pensamento
Iluminismo, também acenam para o deslocamento da tradicional posição feminina na
ordem social e familiar.
Esse deslocamento foi deflagrado pela Revolução Francesa. Segundo Elisabeth
Sledziewski 180 , o movimento deve ser considerado como momento decisivo na história
das mulheres. “A Revolução foi o único regime que ousou, por uma decisão política, pôr
em causa a hierarquia dos sexos” 181 , ainda que assim apenas o fizesse como
“estratagema” para desorganizar o corpo social.
Não que antes nunca tivesse havido uma preocupação com relação aos sexos: o
Cristianismo nascente, a Reforma e o racionalismo de Estado são exemplos. A
diferença em relação à Revolução Francesa está no fato de que essa põe na ordem do
dia, ainda que se recusasse a enfrentá-las depois, questões inéditas até então, como a
do lugar das mulheres na cidade e não apenas na ordem doméstica.
Consoante Maria Rita Kehl, “a participação das mulheres na Revolução Francesa
tem sua origem nos ideais de emancipação feminina do Antigo Regime, fomentados
indiretamente pelas idéias filosóficas do Iluminismo – cuja valorização da autonomia do
180 SLEDZIEWSKI, Elisabeth G. A revolução francesa. A viragem. In: DUBY; PERROT. História das mulheres no
ocidente. v. 4: o século XIX. Trad. Cláudio Gonçalves e Egito Gonçalves. Porto: Edições Afrontamento, 1991, p.41.
181 Idem, p.44.
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