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unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...

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Michel Foucualt 125 , enquanto elemento central de sua análise da produção de saberes<br />

(discursos) inseri<strong>do</strong>s nos processos políticos e econômicos e deles emergi<strong>do</strong>s.<br />

Para os efeitos deste trabalho, portanto, transcende-se a noção <strong>do</strong> discurso<br />

como um conjunto de fatos lingüísticos liga<strong>do</strong>s entre si por regras sintáticas de<br />

construção. Acrescenta-se aos fatos lingüísticos regulares, às leis e regularidades da<br />

linguagem, um jogo estratégico e polêmico “de ação e reação, de pergunta e de<br />

resposta, de <strong>do</strong>minação e de esquiva, como também de luta”. 126 É no inte<strong>rio</strong>r dessa<br />

coexistência de forças, nos pressupostos intrínsecos à dialética, que se situará a<br />

discussão acerca <strong>do</strong> discurso como estratégia cria<strong>do</strong>ra de gênero.<br />

apresentada pelo autor entre linguagem, língua e fala, elaborada no capítulo IV <strong>do</strong> Curso de Lingüística Geral. No<br />

seu entendimento, a linguagem é a estrutura genérica, abstrata, que comporta todas as línguas. A língua, escreve<br />

Saussure, é “a parte social da linguagem, exte<strong>rio</strong>r ao indivíduo que, por si só, não pode criá-la nem modificá-la; ela<br />

não existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabeleci<strong>do</strong> entre os membros da comunidade”(p.22). Já a<br />

fala “é o que faz evoluir a língua” (p.27). É a parte viva, móvel e relacional da língua. A fala corresponde às<br />

manifestações individuais, à vontade, às necessidades <strong>do</strong> falante, imprimin<strong>do</strong>-se, assim, a marca da história, da<br />

cultura. In: SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Trad. José Paulo Paes. et al. São Paulo: Cultrix,<br />

1975.<br />

125 Pela reiterada referência às obras de Michel Foucault, sente-se a necessidade de esclarecer que não é proposta<br />

deste estu<strong>do</strong> o exame de sua epistemologia. Evocam-se dessa alguns elementos, em especial, a sua análise <strong>do</strong><br />

processo de produção <strong>do</strong>s saberes, toma<strong>do</strong>s a partir de sua inserção na ordem política, econômica e social. A<br />

arqueologia e a genealogia de Foucault configuram um campo epistêmico no inte<strong>rio</strong>r <strong>do</strong> pensamento contemporâneo<br />

imprescindível para uma compreensão crítica <strong>do</strong> processo de fundação <strong>do</strong> saber ocidental. Possibilita pensá-lo em<br />

sua conexão com as relações de poder, como ele o fez em Vigiar e Punir (1975) e em A História da Sexualidade, a<br />

Vontade de Saber (1976). O pensa<strong>do</strong>r francês não fez uma história das ciências ou das idéias. Sua fase arqueológica,<br />

desenvolvida entre 1961 e 1969, inaugurada com a obra A História da Loucura e conclusa com a Arqueologia <strong>do</strong><br />

Saber, investiga o contexto e a fonte onde as condições e possibilidades das teorias e conhecimentos, filosofias e<br />

racionalidades, idéias e conceitos deixavam-se desenhar, fundan<strong>do</strong> uma noção de “homem”: homem enquanto objeto<br />

e enquanto sujeito <strong>do</strong> pensamento. Ao projeto arqueológico de investigação, segue-se a proposta genealógica, em<br />

que o poder passa a ser o eixo para a compreensão da produção de saberes. É esse o ponto de congruência entre as<br />

ideais <strong>do</strong> autor e o estu<strong>do</strong> a que esta pesquisa se propõe. O discurso jurídico-penal, apresenta<strong>do</strong> no capítulo ante<strong>rio</strong>r,<br />

e o discurso que anuncia o lugar <strong>do</strong> feminino na sociedade burguesa oitocentista, requer, enquanto objeto de análise,<br />

que se considerem as suas relações com o poder. Para Michel Foucualt, o poder tem o senti<strong>do</strong> de uma prática social<br />

a qual se constitui na história, compreenden<strong>do</strong>, além <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e este aparece em sua obra apenas como articula<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> poder, as demais instituições <strong>do</strong> corpo social. Poder que se materializa na escala social por meio de mecanismos<br />

que administram e ordenam o cotidiano <strong>do</strong> indivíduo segun<strong>do</strong> objetivos econômicos e políticos.<br />

126 FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral de Melo Macha<strong>do</strong> e Eduar<strong>do</strong> Jardim<br />

Moraes. Rio de janeiro: Nau, 2001, p. 9.<br />

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