04.08.2013 Views

unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...

unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...

unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Elena Larrauri em um artigo sobre o sistema de controle social informal sustenta<br />

que pesquisas recentes nessa área têm revela<strong>do</strong> que o “peso” da lei costuma recair<br />

sobre as mulheres menos sujeitas aos mecanismos de controle informal. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

defende a autora, as mulheres com mais probabilidade de acabar presas são aquelas<br />

fora <strong>do</strong>s padrões tradicionais 265 , ou seja, as não casadas, as jovens sem família, ou<br />

aquelas que no entender <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, carecem de quem as possa cuidar.<br />

Valen<strong>do</strong>-se de estu<strong>do</strong>s de autores como Chesney-Lind, Heidensohn e Beristain,<br />

a autora questiona o tratamento dispensa<strong>do</strong> pelos tribunais à mulher delinqüente. Com<br />

base nas pesquisas <strong>do</strong>s autores cita<strong>do</strong>s, ela sustenta que o Direito Penal não é<br />

aplica<strong>do</strong> com mais benevolência às mulheres que não correspondem ao ideal<br />

tradicional de feminilidade ou às mulheres mais jovens que, nos casos de não se impor<br />

a pena de prisão, as excludentes de ilicitude invocam causas como tensão menstrual,<br />

depressão pós-natal, puerpé<strong>rio</strong>, honra e dignidade, menopausa, transtorno mental<br />

transitó<strong>rio</strong>, recrian<strong>do</strong> estereótipos que em nada beneficiam a imagem da mulher. Ainda<br />

265 Esse aspecto também é destaca<strong>do</strong> por Nives Graça de Tommaso Rocha em seu artigo Um perfil de mulheres<br />

detentas e o regime de semiliberdade em que a partir de uma perspectiva da Psicologia Jurídica apresenta um perfil<br />

das mulheres detentas no Instituto Penal Romeiro Neto, Niterói, RJ. O estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> aponta para as motivações da<br />

delinqüência feminina. Além de questões ligadas à problemática social-econômica, a pesquisa revela que a<br />

criminalidade feminina guarda uma forte relação com as “faltas afetivas” vividas pelas carcerárias enquanto sujeitos.<br />

Faltas que, segun<strong>do</strong> a autora, se configuram na ausência freqüente da figura paterna ou materna: “morte, omissão,<br />

aban<strong>do</strong>no e separação”. Ainda em relação ao âmbito familiar (o mais forte mecanismo de controle social informal),<br />

as entrevistadas o descreveram como um espaço de restrições, marca<strong>do</strong> por conflitos pessoais e sociais. Outros<br />

depoimentos revelaram, ainda, a forte influência das relações maritais, observa a autora. In: BRITO, Leila Maria<br />

Torraca de (Org). Temas de Psicologia Jurídica. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999, p. 197-211.<br />

A pesquisa acima referida mostra que as mulheres sujeitas à violência, maus-tratos, omissão, aban<strong>do</strong>no estão mais<br />

propícias a incorrer na prática delituosa, ao que se poderia acrescentar, conforme estu<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> no capítulo 1,<br />

estão também mais vulneráveis a sofrerem as sanções da lei penal, visto que, em seu processo de persecução, o<br />

sistema penal seleciona os indivíduos segun<strong>do</strong> crité<strong>rio</strong>s econômicos, morais, sociais, raciais, de escolaridade, gênero,<br />

etc., como parte de uma dinâmica de exclusão de um sujeito que aparece como outro, como diferente, como<br />

estrangeiro aos olhos da razão e da moral. Este entendimento é sustenta<strong>do</strong> por Michel Foucault visto que o autor<br />

concebe a delinqüência enquanto um lugar produzi<strong>do</strong> sócio-historicamente. Essa produção se dá uma vez que o<br />

sujeito desaloja<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo social é nomea<strong>do</strong> e fala<strong>do</strong> enquanto delinqüente e, em função disso, excluí<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

reconhecimento enquanto cidadão.<br />

133

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!