unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...

ciência, porém é certo que estão inscritas num processo mais amplo de relações de
apropriação e poder, de dominação da própria natureza, associada à mulher, pela sua
proximidade com os processos naturais, como a perpetuação das espécies.
Valendo-se das reflexões de Elizabeth Schüsser-Fiorenza, em sua obra Pero Ella
Dijo, Rose Marie Muraro e Leonardo Boff observam que o patriarcado não pode ser
entendido apenas como dominação binária macho-fêmea. Trata-se, segundo estes
autores, “de uma complexa estrutura política piramidal de dominação e hierarquização,
estrutura estratificada por gênero, raça, classe, religião e outras formas de dominação
de uma parte sobre a outra”. 164
É preciso ter presente, portanto, que essa dominação se configura dentro de um
quadro plurifacetado e assume diferentes configurações na história da civilização e que
o patriarcado, segundo o modelo que ainda hoje subsiste na tradição, insere-se num
movimento dialético articulado a diversas esferas de poder.
Essa mecânica compreende o Estado moderno, uma das maiores construções
sociais da humanidade, organizado segundo a lógica masculina; a religião, com sua
doutrina fundada na aliança legítima (casamento religioso), referendando um padrão de
feminilidade inspirado na virgem santíssima, na rainha do lar 165 ; o exército, símbolo da
164
Um enfoque mais amplo sobre esse tema é encontrado na obra Pero Ella Dijo, de Elizabeth Schüsser-Fiorenza.
In: MURARO; BOFF. Op. cit., p. 55.
165
Apesar da ruptura entre a Igreja e o Estado (no Renascimento), o catolicismo continuou a influenciar a estrutura
famíliar durante o século XIX, codificando a sexualidade e punindo transgressões. Em seu discurso condenava “a
sexualidade autônoma, rebelde, fora do casamento, que se recusasse a obedecer ao princípio da procriação; a
sexualidade fora do casamento, que pretendia gozar da liberdade sem responsabilidade; a sexualidade que, embora
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