unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...

Cabe observar, entretanto, que os discursos de disciplina e de controle exprimem
mais um projeto ou um programa do que propriamente uma operação. Ou, então,
recorrendo mais uma vez aos princípios de Michel Foucault, os sistemas de controle se
sobrepõem e coexistem com os movimentos de resistência. Isso permite pensar a
mulher além do seu lugar de opressão. Possibilita perceber a mulher como um sujeito
ativo no interior da família. Se ao homem era reservado o poder do comando, à mulher
caberia a capacidade de persuasão. Aponta ainda para permeabilidade das fronteiras
entre o público e o privado.
As regras, normas, instruções e punições revelariam quais as áreas precisas da
ansiedade masculina “e não há uma parte do corpo feminino que de alguma forma não
seja alvo de alguma espécie de pânico, raiva ou profundo temor” 240 , sublinha Rosalind
Miles. Segundo a autora, “juntamente com a revolução do industrialismo, e a vitória da
ciência sobre a sensatez e a razão, as leis do século XIX tornaram-se o terceiro e a
mais abertamente opressivo dos inimigos da emancipação feminina”. 241
O Código Civil de Napoleão, que vigorou na França a partir de 1804 e que
exerceu forte influência sobre a legislação dos países ocidentais, deixava as mulheres
em piores condições do que durante toda a Idade Média, dotando os maridos de
poderes extraordinários, sem precedentes na História. Estabelecia a autoridade
absoluta do marido no lar e do pai na família. De forte inspiração romana e germânica,
a autoridade do marido era justificada pelo dever de proteção, tendo em vista não mais
240 Idem, p. 121.
241 Idem, p. 266.
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