11.07.2015 Views

ICOM International Council of Museums - International Institute for ...

ICOM International Council of Museums - International Institute for ...

ICOM International Council of Museums - International Institute for ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

elações de complexidade entre os tratamentos de memória e a produção de efeitosde sentido dos patrimônios culturais?Segundo Montpetit 16 , depois dos trabalhos do filós<strong>of</strong>o Henri Bergson sobre a memóriainvoluntária e depois de Marcel Proust, degustando as “madeleines” molhadas no chá,“Em busca do tempo perdido”, sabemos que os objetos materiais podem funcionarsobre nós como “trampolins para o passado” e nos transportam através de temposremotos nos quais, assim como no presente, eles também têm desenvolvida umarelação de pertencimento. O objeto antigo conservado não escapa do tempo, pelocontrário, ele está inscrito duplamente no tempo passado e presente, colocando-se de<strong>for</strong>mas diferentes em sua época e na nossa.Voltando ao que foi estabelecido por Proust ao relacionar passado, memória e objetomaterial, é interessante lembrar como o autor desvelou tão bravamente esta relaçãoatravés das lembranças do personagem:E de súbito a lembrança me apareceu. Aquele gosto era o do pedacinho de madeleineque minha tia Léonie me dava aos domingos pela manhã em Combray (porque nessedia eu não saía antes da hora da missa), quando ia lhe dar bom-dia no seu quarto,depois de mergulhá-lo em sua infusão de chá ou de tília. A vista do pequeno biscoitonão me recordara coisa alguma antes que o tivesse provado; talvez porque, tendo-ovisto desde então, sem comer, nas prateleiras das confeitarias, sua imagem haviadeixado aqueles dias de Combray para se ligar a outros mais recentes; talvez porque,dessas lembranças abandonadas há tanto <strong>for</strong>a da memória, nada sobrevivesse, tudose houvesse desagregado; [...] Mas, quando nada subsiste de um passado antigo,depois da morte dos seres, depois da destruição das coisas, sozinhos, mais frágeisporém mais vivazes, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o aroma e o saborpermanecem ainda por muito tempo, como almas, chamando-se, ouvindo, esperando,sobre as ruínas de tudo o mais, levando sem se submeterem, sobre suas gotículasquase impalpáveis, o imenso edifício das recordações. 17Tais objetos, aos quais Montpetit faz referência, despertam o reconhecimento porparte de quem se vê neles – ou vê parte de seu passado – transportando aquele quese vê, involuntariamente, à alguma instância de sua memória. Está aí a relação depertença.2.2 - Objetos de memória, objetos da históriaMas a verdade, contrariando um pouco Proust, é que o passado não está escondidonos objetos, mas sim em nossa memória. Nós é que atribuímos aos objetos o poderde evocar, por associação, esse passado. 18 E quando essa memória, evocada poreles, é importante para o coletivo, eles são nomeados “objetos de memória”, ou,simplesmente, “patrimônio”. Como explica Lima 19 , o foco da memória está dirigido paraas lembranças referenciais que atuam como sinais simbólicos; citando Jeudy, a autoraafirma que por isso todo objeto pode ser apreendido como um signo cultural, portadorde uma dimensão simbólica eterna, a funcionar como um “traço mnésico”. Este traçode memória, porém, só pode ser evocado quando um indivíduo ou uma coletividade sedepara com o objeto material, e deste encontro depende a sensação à qual Proust serefere.Os traços de memória estão sempre dentro de nós, estejamos cientes deles ou não.Mesmo quando um objeto faz remeter a uma memória esquecida, não é o objeto em si16 MONTPETIT, Raymond. Les musées, générateurs d´un patrimoine pour aujourd´hui. Quelques reflexions sur lesmusées dans nos sociétés postmodernes. In: SCHIELE, Bernard (dir.). Patrimoines et identités. Québec: ÉditionsMultimondes, 2002. p.79.17 PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido. 3 v. p.52.18 SCHEINER, Tereza. Sessão de orientação à monografia (in<strong>for</strong>mação verbal), UNIRIO, NUCLEN. 2006.19 LIMA, Diana Farjalla Correia. Social Memory and museum institution: thinking about the (re)interpretation <strong>of</strong> culturalheritage. In: Simposyum: Museology and Memory, XIXth Annual Conference <strong>of</strong> ICOFOM. 1997. p.202-211. p.206.460

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!