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ICOM International Council of Museums - International Institute for ...

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Nada mais natural, portanto, que o Museu – este instrumento enunciador da cultura eda experiência humanas - se tenha <strong>for</strong>talecido como experiência hegemônica ao longodo mesmo século, através de uma de suas representações: o museu tradicional,espaço de guarda de documentos culturalmente relevantes para aqueles que, desde ocentro, constituíam as narrativas da História. Não é por acaso que o discurso‘museológico’ da Modernidade se tenha configurado com base nestas narrativas; eque para isto se tenha feito uso da cronologia, da paleografia, da diplomática –dispositivos reconhecidos, até bem pouco tempo, como “ciências auxiliares daHistória”; e que mesmo os museus etnográficos, que se ocupam essencialmente dassociedades simples e dos grupos ágrafos, se tenham fundamentado em grande partenas abordagens cronológicas e nas narrativas de cunho historiográfico, fazendo odiscurso do Diferente a partir de um olhar projetado a partir do centro.Nestes museus, as escritas tecidas sobre a oralidade trans<strong>for</strong>maram pessoas emobjetos – e fatos culturais em narrativas do ‘exótico’. Movimento similar se deu nosmuseus de história natural, onde a natureza vem sendo tratada como protagonista deum grandioso enredo, que conta a evolução da vida no planeta. Constituídos com apreocupação de enunciar uma ‘história da natureza’, esses museus articulamnarrativas através das quais a vida evolui no espaço, dentro de uma perspectivatemporal, cronológica, linear.É um movimento propício aos maniqueísmos: fazem parte deste contexto as imagensde um ‘mundo selvagem’, de ‘povos primitivos’, da ‘hiléia amazônica’ e de ‘animaisferozes’, apenas para citar alguns dos termos e contextos de que se revestiram estasnarrativas. Sob a alegação de reter as coisas ‘em sua pureza’, recria-se a trajetória davida no planeta, especialmente da vida humana, desde um ponto de vista centralizado– usando a palavra ‘como o corpo que significa’ 4 , como aquilo que empresta umverdadeiro sentido ao real.Percebe-se, assim, que a relação entre Museologia e História nada tem de simples – eque a sua análise pode mesmo ser revestida de alguns mal-entendidos. Não é umaquestão que se esgote com a abordagem das exposições em museus de história oucom a musealização de sítios históricos, embora estes dois movimentos façam partede um ‘quantum’ relativo ao tema. A problemática desta relação é muito maispr<strong>of</strong>unda, e interfere diretamente nos modos e <strong>for</strong>mas através dos quais se pensa e seconstrói tanto a História como a Museologia.Entre as muitas questões a serem analisadas, considero mais relevantes aquelasvinculadas às seguintes categorias:1. Museu e LinguagemPoderíamos dizer também Museu e Narrativas de Mundo. Aqui, podemos identificarmovimentos de convergência e de divergência. Tanto o Museu como a História seconstituem pelo discurso, dizendo o real de um modo que lhes é muito próprio; ambosse valem de uma consciência racional e temporal do mundo e se articulam pela razão,com base nas evidências dos fatos. Mas os museus se constituem simultaneamentena espacialidade e na temporalidade. E, ainda que por longo tempo só tenham podidoperceber ou narrar o mundo em historicidade, a passagem do estatuto moderno para ocontemporâneo permitiu-lhes articular suas falas a partir de novos recortesdiscursivos. Hoje já não é mais possível desconsiderar o caráter mítico que define, emseu âmago, a gênese das culturas, nem a influencia do mito na constituição de umriquíssimo universo simbólico que impregna, das mais variadas <strong>for</strong>mas, osmovimentos de representação. Aos museus já não importa tanto, agora, recriar omundo a partir de um centro ou de uma idéia pré-dada, mas sim apresentar as coisas4 Ibid, in op. Cit, p. 217.53

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