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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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Elias (2001, p.25) chama atenção para a característica que diferencia<br />

a Morte Domada, diferencian<strong>do</strong>-a da Morte Invertida – o fato da presença<br />

reconfortante da presença <strong>de</strong> outras pessoas junto ao moribun<strong>do</strong>. No<br />

entanto, discorda <strong>de</strong> Ariès quanto à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> morte pacífica numa época<br />

com pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> guerras e pestes. Ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o processo civiliza<strong>do</strong>r<br />

contribuiu significativamente para a solidão <strong>do</strong>s moribun<strong>do</strong>s na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>. Afirma que as atitu<strong>de</strong>s das pessoas em relação à morte<br />

e o morrer sofreram mudanças “no curso <strong>do</strong> níti<strong>do</strong> processo civilizatório que<br />

teve início há quatrocentos ou quinhentos anos”, no qual, <strong>de</strong>ntre outros<br />

aspectos, foi responsável por um crescente tabu em relação à expressão <strong>de</strong><br />

sentimentos espontâneos e fortes. Em suas palavras:<br />

87<br />

A natureza especial da morte e <strong>de</strong> sua experiência em<br />

socieda<strong>de</strong>s avançadas não po<strong>de</strong> ser entendida <strong>de</strong> maneira<br />

apropriada sem referência ao po<strong>de</strong>roso impulso à<br />

individuação que se estabeleceu com o Renascimento e que,<br />

com muitas flutuações, continua até hoje. (Elias, 2001, p. 68).<br />

Embora ainda existentes, modificaram-se os rituais fúnebres e retirou-<br />

se a ênfase <strong>do</strong> luto, ritual tão importante para todas as culturas.<br />

Culturalmente, margeia-se incansavelmente o morrer. No século XIX, a<br />

<strong>de</strong>spedida, o contato final era importante. Diferentemente disso, o século XX<br />

teve o contato <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida substituí<strong>do</strong> por uma cortina negra <strong>de</strong> evitação<br />

(Castro, 2004, p. 40). O velório, o enterro, tu<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve ser rapidamente<br />

provi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> para que to<strong>do</strong>s retornem às ativida<strong>de</strong>s o mais rápi<strong>do</strong> possível.<br />

Esse aparato mercantil na socieda<strong>de</strong> capitalista contemporânea consegue<br />

apagar os sinais <strong>de</strong> que a morte esteve presente. Evita-se falar <strong>do</strong>s mortos,

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