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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA<br />

Imagens <strong>de</strong> <strong>do</strong>r, <strong>de</strong> intenso sofrimento, aliadas aos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />

mudança, obsediaram a escolha pelo diálogo com o tema da racionalida<strong>de</strong><br />

médica, mais precisamente da formação médica. As imagens invocam a<br />

presença da morte. Não a morte física necessariamente, mas a morte em<br />

vida, a morte da sensibilida<strong>de</strong>, a ausência <strong>do</strong> contato humano, afeto,<br />

envolvimento, entrega. Imagens <strong>de</strong> um ouvir que não escuta, da morte ou<br />

interdição <strong>do</strong>s sentimentos.<br />

São muitas as cenas fictícias e reais que vão guian<strong>do</strong> a composição<br />

<strong>de</strong>sta tese, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o capinar à colheita.<br />

A escolha pela cena fictícia se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> a ficção, com sua força<br />

e liberda<strong>de</strong> estética, apontar conflitos e questões que permeiam o cotidiano<br />

<strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e que dizem respeito às motivações e ao percurso<br />

<strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Eis uma cena fictícia:<br />

Um jovem solda<strong>do</strong>, durante a primeira Gran<strong>de</strong> Guerra<br />

Mundial, é atingi<strong>do</strong> por uma bomba, per<strong>de</strong> seus braços e<br />

pernas, seus olhos, nariz e boca, mas permanece vivo, com a<br />

mente funcionan<strong>do</strong>, porém os médicos acreditavam que ele<br />

não estivesse lúci<strong>do</strong> e, por isso, aceitam sem muito pesar a<br />

manutenção <strong>de</strong> sua vida. É prescrito um medicamento para<br />

seus movimentos (abalos musculares) e é também prescrito<br />

que nenhum membro da equipe <strong>de</strong>ve ter ‘envolvimento<br />

emocional’ com o paciente. Este é <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> num quarto<br />

isola<strong>do</strong> on<strong>de</strong> ninguém po<strong>de</strong> vê-lo ou saber <strong>de</strong> sua existência.<br />

Duas personagens transgri<strong>de</strong>m esta prescrição. A primeira,<br />

uma enfermeira que se penaliza <strong>do</strong> rapaz, abre as janelas e,<br />

com o calor <strong>do</strong> sol em sua pele, Johnny pô<strong>de</strong> começar a<br />

medir o tempo, dia, noite, dia, semana, semana, mês, outro<br />

mês, até que se passa um ano, vários anos (em seu<br />

calendário interno). A segunda, uma outra enfermeira<br />

(curioso que sejam enfermeiras a <strong>de</strong>sempenhar esse papel e

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