A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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O calar e a distância do olhar à prática traduzem como, para sermos
científicos, continuamos impregnados pela crença na separação sujeito-
objeto, e nos afastamos cada vez mais da dimensão do cuidar enquanto
tarefa da Medicina.
A questão que colocamos não é o alcance da validade do método que
legitima uma medicina excessivamente instrumental, mas o não
reconhecimento dos seus limites, das seqüelas dessas transposição do
pensar mecânico para a racionalidade médica; das seqüelas de uma
conquista unilateral.
As tentativas de superação de um discurso/prática na construção do
“ser médico” que no lidar com a doença e a morte de um paciente seja
capaz de rejuntar as dimensões cindidas: médico-paciente, razão-emoção,
técnica-cuidado, vida-morte, passa necessariamente pelo reconhecimento
da incompletude do modelo médico ao exercer sua função diante do caso
singular e especialmente diante do acompanhamento do processo de morte.
É preciso, portanto, despertar, por meio da reflexão e da prática, a
dúvida produtiva presente nos limites do saber médico, para que seja
possível criar um espaço para outro tipo de saber, que não precise silenciar
ou banalizar o sofrimento, a morte.
A dificuldade de inclusão do preparo para lidar com a morte na
formação acadêmica não é, portanto, apenas um efeito acidental do ensino
médico, mas implica questões epistemológicas que estão na base da própria
racionalidade da biomedicina, que, no dizer de Canguilhem (1977) é a
dificuldade de apreender a lidar com a dor, o sofrimento e a morte.