A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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internado, ele tava muito mal quando eu conversei com ele. A
gente já sabia que ele não tinha cura, a família já sabia disso
e tudo, a família era muito apegada a ele, então a gente
acompanhou ele, fiz o que pude, eu conversava muito com
a família, e com ele. Foi difícil, mas eu consegui. Dá uma
impotência, mas foi gratificante esse lado de ajudá-los.”
[Fragmento de entrevista – Ricardo– Residente 1]
“Acho que o sentimento pior que tem é o de impotência,
no caso do paciente com câncer né, você sabe que ele tá
piorando e não pode fazer muita coisa, então é um
sentimento de impotência diante do paciente. [...]. O que é
mais gratificante pra mim é a cura. Infelizmente muitas
vezes não é o que acontece, e a função do médico não é
exatamente curar, muitas vezes é aliviar, né? Dar conforto ao
paciente. Eu acho que a cura é o máximo que você encontra,
né? Principalmente na minha área de cirurgia que lida muito
com isso, você tem a opção de muitas vezes num
procedimento cirúrgico você curar um paciente. Mas você
descobre no dia a dia que não é Deus, que não é
onipotente, sabe! E o melhor é que descubra cedo pra
não ficar como uns se achando. E ai você vai valorizar o
que você fez para ajudar o paciente que também é seu
papel.” [Fragmento de entrevista – Rafael – Residente 2]
“Eu acho que eu não vou me sentir mal se eu vir que
realmente fiz o que tinha que ser feito, que a minha missão
foi cumprida, que eu dei a atenção que ele precisava, dei o
apoio que ele precisava, dei o tratamento que ele precisava.
Eu acho que eu não vou me sentir mal, impotente por
isso, se eu pude fazer muito e saber que fiz.” [Fragmento
de entrevista – Felipe - 4º ano/8º período]
Martins (2004, p.26) esclarece:
Onipotência, no entanto, não é potência nem se opõe à
impotência. Ao contrário, onipotência é defesa contra a
ameaça de impotência, mas, reativa, mantém esta da qual se
quer livrar. Ambas, portanto, impotência e sua máscara a
onipotência, se opõem à potência.
As ilustrações apontam sinais da descoberta da potência presente no
estar junto do paciente, para além da lógica do fazer meramente
instrumental. Tal perspectiva implica optar por uma medicina que considere