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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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Camargo Jr et al (2005, p. 4), citan<strong>do</strong> Bonet 9 , assinalam que o<br />

trabalho médico é marca<strong>do</strong> por uma ambigüida<strong>de</strong> em relação ao que os<br />

médicos <strong>de</strong>vem saber e ao que sentem ao fazer; o saber e o sentir seriam a<br />

expressão <strong>de</strong> uma tensão estruturante que se encontra presente no interior<br />

da prática médica. Durante os anos <strong>de</strong> formação, o médico apren<strong>de</strong>ria a<br />

manejar essa tensão e, gradativamente, as manifestações relacionadas à<br />

subjetivida<strong>de</strong>, ao emocional iriam sen<strong>do</strong> excluídas da prática cotidiana.<br />

213<br />

Entretanto, é importante <strong>de</strong>stacar que a exposição <strong>de</strong> sentimentos<br />

<strong>do</strong>s estudantes <strong>do</strong> quarto ao sexto ano sinalizam a sensibilida<strong>de</strong> para a<br />

ressignificação <strong>do</strong> tão fala<strong>do</strong> acostumar-se. Elas refletem sobre o que<br />

significa “ter que se acostumar”. Acostumar-se é não sentir, não pensar,<br />

para não se abalar e com isso não sofrer? A fala <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las é bem<br />

ilustrativa:<br />

“A morte <strong>de</strong> um paciente vai ser sempre ruim, mas a gente<br />

tem que se acostumar. Sei que eu quero fazer mais <strong>do</strong> que<br />

isso, me acostumar a ficar junto <strong>de</strong>le, a fazer a minha parte.<br />

Não sei se vou conseguir. A gente apren<strong>de</strong> meio na marra,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um. Quan<strong>do</strong> você encontra um bom<br />

professor aí é diferente, você fica menos só.” [Fragmento <strong>de</strong><br />

entrevista - Cecília - 5º ano/10º perío<strong>do</strong>]<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, “se acostumar” com a <strong>do</strong>ença, sofrimento e morte<br />

po<strong>de</strong> significar apren<strong>de</strong>r a lidar com as emoções, e não apenas tentar<br />

eliminá-las. Seria mobilizar uma certa estrutura <strong>de</strong>fensiva que permita a<br />

diferenciação da <strong>do</strong>r <strong>do</strong> outro sem cortar o laço <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação com o<br />

paciente.<br />

9 Bonet O. O saber e o sentir. Uma etnografia da aprendizagem da biomedicina. Physis –<br />

Revista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Coletiva 1999; 9 (1): 123-150.

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