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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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indiferentes a torturas, extermínios, a morte em vida <strong>de</strong> parte da população.<br />

Po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indignação, e ficarmos anestesia<strong>do</strong>s<br />

para a <strong>do</strong>r <strong>do</strong> outro, ou seria “acostuma<strong>do</strong>s”?<br />

Além disso, o fato <strong>de</strong> não entrarmos em contato com os nossos<br />

sentimentos quan<strong>do</strong> os negamos po<strong>de</strong> acarretar problemas físicos e<br />

psíquicos, pois a morte <strong>de</strong> uma pessoa querida, por exemplo, assim como<br />

qualquer outra perda, precisa <strong>de</strong> um tempo para ser chorada, vivida, enfim<br />

para elaborarmos o luto. A “má” elaboração <strong>do</strong> luto, quan<strong>do</strong> não se permite a<br />

expressão <strong>de</strong> tristeza e <strong>do</strong>r, tem trazi<strong>do</strong> sérias conseqüências, como maior<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ecimentos (Parkes, 1998; Bromberg, 1995, 1996).<br />

E, assim, o exorcismo da morte em nossa cultura tornou-se elemento<br />

estrutura<strong>do</strong>r da civilização contemporânea, que vai aten<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>sejos da<br />

racionalida<strong>de</strong> científica <strong>de</strong> <strong>do</strong>minar tu<strong>do</strong> à sua volta, <strong>de</strong> não lidar com a<br />

instabilida<strong>de</strong> e impermanência das coisas; <strong>de</strong> um surto civilizatório marca<strong>do</strong><br />

pelo individualismo nas relações e interdição da expressão <strong>de</strong> nossas<br />

emoções, <strong>do</strong> riso à morte; e das ilusões da medicina oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> vencer a<br />

morte.<br />

A gran<strong>de</strong> dádiva <strong>de</strong> evitar a reflexão sobre a finitu<strong>de</strong>, a dádiva da sua<br />

negação, é permitir que ela instaure o interdito <strong>de</strong>finitivo sobre a morte.<br />

Evita-se falar nela, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se que é possível lidar com ela com<br />

naturalida<strong>de</strong>, sem nos expormos à reflexão sobre os sentimentos por ela<br />

<strong>de</strong>sperta<strong>do</strong>s e seguimos to<strong>do</strong>s, médicos e não-médicos, entre o sofrimento e<br />

a tentativa <strong>de</strong> naturalização, evitan<strong>do</strong> falar na morte, evitan<strong>do</strong> pensar na<br />

vida.<br />

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