12.04.2013 Views

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“Até a água eles custam a me dar. Parece que eu contamino<br />

só com a presença. O médico não acredita que eu possa sair<br />

<strong>de</strong>ssa, ele diz isso com seus olhos, com sua <strong>de</strong>satenção.<br />

Ele pouco vem aqui. Acho que ele tem me<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> eu tento<br />

tocá-lo, que a minha morte o leve também. Ele não<br />

apren<strong>de</strong>u que a morte é <strong>de</strong> cada um, ela não é<br />

contagiosa, cada um tem a sua e pior, eu sei que ela não<br />

avisa quan<strong>do</strong> vem mesmo que o <strong>do</strong>utor se iluda achan<strong>do</strong><br />

que ele sabe o meu tempo... e o <strong>de</strong>le, Será que ele<br />

também sabe? Sabe, é como se eu já tivesse morri<strong>do</strong>, eu<br />

preciso estar provan<strong>do</strong> que estou vivo, por isso eu às vezes<br />

tenho essas ‘crises <strong>de</strong> nervoso’.” (Relato <strong>de</strong> um porta<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

HIV/Aids, em situação <strong>de</strong> atendimento psicoterapêutico<br />

realiza<strong>do</strong> pela autora, em um hospital <strong>de</strong> referência em<br />

<strong>do</strong>enças infecto-contagiosas, 1995)<br />

— “Doutor, eu acho que estou morren<strong>do</strong>” (Paciente porta<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> um câncer em esta<strong>do</strong> avança<strong>do</strong>)<br />

— “Converse com sua psicóloga, que mais tar<strong>de</strong> eu volto<br />

aqui.” (médico) (Notas <strong>de</strong> um diálogo realiza<strong>do</strong> em uma<br />

unida<strong>de</strong> especializada em oncologia, presencia<strong>do</strong> pela<br />

autora, 2002).<br />

Presenciamos essas cenas reais durante a realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> extensão universitária em serviços médicos especializa<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong><br />

atuávamos como psicóloga. Na primeira situação em questão, temos um<br />

fragmento <strong>de</strong> um relato em sessão psicoterápica. Na segunda, a fala foi<br />

dirigida ao médico que entrava na enfermaria no momento <strong>de</strong> em que a<br />

autora estava com o referi<strong>do</strong> paciente. Cenas que sempre a perseguiram,<br />

bem como as afirmativas – perguntas <strong>de</strong> tantos pacientes.<br />

A <strong>de</strong>s-atenção e <strong>de</strong>s-humanização na prática médica, nessas<br />

imagens em que ficção e realida<strong>de</strong> se confun<strong>de</strong>m, e os sentimentos que elas<br />

invocam estão presentes no nosso cotidiano como psicóloga.<br />

A elaboração das idéias, aqui anunciadas, foram se impon<strong>do</strong> como<br />

reflexão através <strong>do</strong> encontro com pacientes e médicos no contexto<br />

hospitalar, e em momento posterior, com estudantes e médicos no contexto<br />

3

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!