12.04.2013 Views

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A exclusão das emoções é transformada numa técnica científica,<br />

necessária ao bom <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> médico. A pretensão <strong>de</strong> “neutralida<strong>de</strong>” é<br />

a justificativa para tal exigência.<br />

Na medida em que o médico se <strong>de</strong>spoja <strong>de</strong> suas emoções, usan<strong>do</strong><br />

como escu<strong>do</strong> uma pretensa “neutralida<strong>de</strong> cientifica”, o paciente é<br />

transforma<strong>do</strong> num objeto e seu corpo passa a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um meio<br />

através <strong>do</strong> qual se po<strong>de</strong>m observar “fenômenos” científicos (Quintana et al.,<br />

2002).<br />

150<br />

Autores como Concone (1983), Perazzo (1985), Leão (1994) e<br />

Kovács (2003) se referem à formação médica como um treinamento que<br />

objetiva retirar <strong>do</strong> aluno quaisquer resquícios <strong>de</strong> emoção diante <strong>do</strong> paciente,<br />

fazen<strong>do</strong> com que ele seja visto como uma <strong>do</strong>ença e não como uma pessoa.<br />

Foucault (1987) já nos ensinou sobre a configuração <strong>de</strong>sse processo, e<br />

nossos alunos, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> suas reações nas aulas <strong>de</strong> Anatomia, apontam<br />

essa perspectiva. Vejamos um exemplo:<br />

“No primeiro momento você reflete um pouquinho, você olha<br />

assim, ali é um braço, é uma perna, uma cabeça que foi <strong>de</strong><br />

alguém, quem <strong>de</strong>veria ser essa pessoa, daí agente entra olha<br />

o rosto que lembra mais, não po<strong>de</strong> se envolver com isso, ai<br />

com o tempo a gente se acostuma mais sabe, que tem o<br />

la<strong>do</strong> bom e o la<strong>do</strong> ruim, o la<strong>do</strong> bom é você se acostumar<br />

um pouco porque você precisa trabalhar com aquilo, mas<br />

o la<strong>do</strong> ruim é que você vai se tornan<strong>do</strong> mais frio pra lidar<br />

com as coisas, né, pra lidar com essas questões difíceis<br />

aí, vai fican<strong>do</strong> mais frio e começa a ver o ser humano não<br />

como ser humano, mas como uma máquina. Depois você<br />

vê o paciente também como um objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, uma<br />

máquina que tem o coração baten<strong>do</strong>. Aí o médico precisa<br />

rever essa postura, senão ele vai ficar <strong>de</strong>sumano.”<br />

[Fragmento <strong>de</strong> entrevista - Felipe - 4ºano /8º perío<strong>do</strong>]

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!