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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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sempre prezava muito por isso, respeito pelo cadáver.<br />

Mas uma preparação maior, uma coisa mais sensível pra<br />

gente se acostumar não teve não, pra gente falar como tá se<br />

sentin<strong>do</strong>. Afinal no começo não é normal, são cadáveres, sei<br />

que a gente acostuma, vai ser médico né? Senão...”<br />

[Fragmento <strong>de</strong> entrevista – Fernanda - 4º Ano/8º perío<strong>do</strong>]<br />

Falar sobre os sentimentos <strong>de</strong>sperta<strong>do</strong>s no contato com os cadáveres<br />

não é estimula<strong>do</strong>. O impacto inicial (se houver) <strong>de</strong>ve ser solitariamente<br />

transforma<strong>do</strong> em comportamentos “a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s”, espera<strong>do</strong>s para um futuro<br />

médico.<br />

O respeito, cita<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os alunos e resi<strong>de</strong>ntes, é uma das<br />

atitu<strong>de</strong>s obrigatórias para quem tem acesso a esse espaço. “Não brincar”,<br />

“não zoar”, não erotizar partes <strong>do</strong> corpo são atitu<strong>de</strong>s esperadas e vigiadas<br />

durante a aquisição <strong>de</strong> um saber diferencia<strong>do</strong>r e cujo ponto <strong>de</strong> reflexão é o<br />

trato com o cadáver, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância prática e simbólica para o futuro<br />

<strong>de</strong>sses estudantes.<br />

Concone (1983), em seu <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> sobre Anatomia,<br />

consi<strong>de</strong>rou o curso <strong>de</strong>ssa disciplina “um <strong>do</strong>s espaços sagra<strong>do</strong>s da escola”.<br />

Se tomarmos o conceito <strong>de</strong> Rodrigues (1979, p.176) sobre o sagra<strong>do</strong>, temos<br />

que “o sagra<strong>do</strong> é o ser proibi<strong>do</strong>, que não po<strong>de</strong> ser viola<strong>do</strong>, <strong>do</strong> qual não<br />

ousamos nos aproximar, porque ele não po<strong>de</strong> ser toca<strong>do</strong> [...]. Qualquer<br />

contato in<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> tem por efeito a sua profanação”.<br />

A sacralida<strong>de</strong> apontada funda-se na presença da morte e <strong>do</strong> morto,<br />

cujo toque só seria permiti<strong>do</strong> para alguns inicia<strong>do</strong>s (estudantes) em nome <strong>de</strong><br />

um bem maior – a vida. Para esse fim a profanação é permitida.

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