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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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Foi Bichat (1771-1908) que não se contentou em <strong>de</strong>screver o corpo;<br />

era necessário explicar. Com ele surge a noção <strong>de</strong> lesão patológica mais<br />

específica nos teci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que nos órgãos, permitin<strong>do</strong> o entendimento <strong>de</strong> que<br />

os sintomas apresenta<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>entes quan<strong>do</strong> vivos fossem explica<strong>do</strong>s<br />

pelas lesões encontradas nos corpos disseca<strong>do</strong>s após sua morte (Sayd,<br />

1993).<br />

Nasce um novo olhar sobre a morte, um novo paradigma médico da<br />

teoria anátomo-clínica no limiar <strong>do</strong> século XIX. O olhar <strong>de</strong>via, portanto,<br />

penetrar no escuro, olhar mais <strong>do</strong> que apenas o visível imediato. E é<br />

exatamente esse movimento que a medicina clínica tenta realizar ao<br />

examinar um <strong>do</strong>ente: ver, através <strong>do</strong>s sintomas expressos, as lesões<br />

internas, enxergar o invisível através da correlação com os sintomas visíveis.<br />

130<br />

Des<strong>de</strong> que a medicina <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser prática religiosa e<br />

começa a ser penetrada por uma fundamentação racionalista,<br />

passa-se a buscar os sinais que permitam ver através para<br />

prever (diagnóstico-prognóstico). Os hipocráticos procuravam<br />

os sinais exteriores <strong>do</strong> a<strong>do</strong>ecimento para interpretar a<br />

dinâmica da physis e ajudá-la no alcance <strong>de</strong> novo equilíbrio;<br />

os galenistas procuravam nesses sinais, ainda exteriores, a<br />

substância <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>ecimentos para expurgar os males; e os<br />

mo<strong>de</strong>rnos vão buscar na intimida<strong>de</strong> das estruturas <strong>do</strong> corpo a<br />

mecânica <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>ecimentos para trazê-la <strong>de</strong> volta ao seu<br />

esta<strong>do</strong> funcional. 6<br />

A morte, ao iluminar o interior <strong>do</strong>s corpos mortos, ensina a verda<strong>de</strong><br />

sobre a <strong>do</strong>ença, uma verda<strong>de</strong> cartesiana, clara e distinta. Uma concepção<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> como não-ocultamento, cuja ênfase maior vai se dar no la<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

6 José Ricar<strong>do</strong> Ayres. Comunicação pessoal, outubro <strong>de</strong> 2006.

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