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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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com relatos <strong>do</strong> paciente. As conseqüências disso são profundas. Cria-se a<br />

<strong>de</strong>pendência em relação aos médicos, que possuem os meios técnicos para<br />

lutar contra a morte. Se antes a tradição religiosa colocara a morte “na<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus”, a medicalização da morte vai colocá-la em mãos<br />

humanas. A medicina passa a ser a condutora <strong>do</strong> processo da morte e fonte<br />

<strong>de</strong> respostas para as questões que a cercam (Falcão e Lino, 2004).<br />

Foucault, em O nascimento da clínica (1987, p.226), resume esse<br />

processo, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> no méto<strong>do</strong> anátomo-clínico uma estrutura<br />

epistemológica em que se articulam o espaço, a linguagem e a morte. Ele<br />

explica:<br />

133<br />

Esta estrutura em que se articulam o espaço, a linguagem e a<br />

morte, o que se chama em suma o méto<strong>do</strong> anátomo-clínico,<br />

constitui a condição histórica <strong>de</strong> uma medicina que se dá e<br />

que recebemos como positiva. A <strong>do</strong>ença se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> da<br />

metafísica, <strong>do</strong> mal com quem, há séculos, estava aparentada,<br />

e encontra na visibilida<strong>de</strong> da morte a forma plena em que seu<br />

conteú<strong>do</strong> aparece em termos positivos. Pensada em relação<br />

à natureza, a <strong>do</strong>ença era o negativo interminável cujas<br />

causas, formas e manifestações só se ofereciam <strong>de</strong> viés e<br />

sobre um fun<strong>do</strong> sempre recua<strong>do</strong>; percebida com relação à<br />

morte, a <strong>do</strong>ença se torna exaustivamente legível, aberta sem<br />

resíduos à dissecação soberana da linguagem e <strong>do</strong> olhar.<br />

Como já afirmamos, enten<strong>de</strong>mos o ensino da Anatomia como sen<strong>do</strong> a<br />

instância <strong>de</strong> iniciação <strong>de</strong>sse novo saber. Trata-se, inegavelmente, da<br />

aquisição <strong>de</strong> um saber diferencia<strong>do</strong>r, que começa a <strong>de</strong>marcar para o<br />

estudante a entrada no “mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s médicos”. Sem ignorar outros<br />

<strong>de</strong>terminantes que <strong>de</strong>marcam o <strong>“ser</strong> <strong>médico”</strong> <strong>do</strong> “não ser <strong>médico”</strong>, queremos<br />

dizer que é evi<strong>de</strong>nte a linha <strong>de</strong>marcatória que começa a ser esboçada nas<br />

aulas <strong>de</strong> Anatomia, naquele espaço on<strong>de</strong> o objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> a ser

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