A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
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incompatibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino em que estão inseri<strong>do</strong>s, tornan<strong>do</strong><br />
sua visão mais realista. A partir <strong>do</strong> terceiro e quarto anos, apesar <strong>de</strong><br />
manterem a imagem <strong>de</strong> uma prática humanizada, eles passam a questionar<br />
a dinâmica <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> formação, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong>, a cada ano que passa,<br />
um <strong>de</strong>sencanto com o processo vivencia<strong>do</strong>, em relação ao alcance global <strong>de</strong><br />
suas metas. Os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Batista e Dini (2004) divergem um pouco <strong>do</strong>s<br />
nossos em relação a esse <strong>de</strong>sencanto. A autora afirma que apenas a partir<br />
<strong>do</strong> quinto ano <strong>de</strong>tectou esses aspectos. Nos nossos acha<strong>do</strong>s surge bem<br />
antes, alia<strong>do</strong> à esperança <strong>de</strong> que a proposta <strong>do</strong> currículo novo saia da<br />
“pregação” para a ação.<br />
O <strong>de</strong>poimento abaixo <strong>de</strong>screve como ocorre o ensino <strong>do</strong><br />
distanciamento humano menciona<strong>do</strong> pelos estudantes, ilustran<strong>do</strong> com<br />
riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes a lógica <strong>do</strong> horizonte <strong>do</strong> treinamento ao qual eles estão<br />
submeti<strong>do</strong>s. Eis a fala:<br />
111<br />
“Nós apren<strong>de</strong>mos a ficar mais preocupa<strong>do</strong>s em apontar<br />
hipóteses <strong>de</strong> diagnóstico, mais preocupa<strong>do</strong>s em ver por on<strong>de</strong><br />
que a gente resolve o problema <strong>do</strong> paciente, em qual exame<br />
que a gente pe<strong>de</strong>, qual exame que a gente passa, será que a<br />
gente tem que encaminhar, será que a gente precisa <strong>do</strong><br />
parecer <strong>de</strong> outro especialista, e aí a gente vai discutir o caso,<br />
a gente vai discutir vamos supor, o mecanismo daquela<br />
<strong>do</strong>ença, etc, e aí muitas vezes a gente conclui, tira nossas<br />
conclusões, sabe o que é que o paciente tem ou sabe mais<br />
ou menos por on<strong>de</strong> a gente vai investigar pra dar um<br />
<strong>de</strong>sfecho no atendimento, né, e aí no final quan<strong>do</strong> a gente<br />
conclui tu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>, prepara ali as requisições, pe<strong>de</strong> os<br />
exames, pe<strong>de</strong> os encaminhamentos, etc, etc, passa os<br />
remédios, entrega pra ele e nem sequer discute o caso<br />
com ele, pra tranqüilizá-lo, pra esclarecer o que ele tá<br />
sentin<strong>do</strong>, se é grave ou não, saber como ele tá se<br />
sentin<strong>do</strong> diante <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> aquilo, e aí muitas vezes eu acho<br />
que ele sai dali angustia<strong>do</strong>, e nós <strong>de</strong>cidimos tu<strong>do</strong>. Ou<br />
seja, concluin<strong>do</strong>, o nosso curso exige muito essa formação<br />
técnica, a nossa profissão exige muito uma boa formação<br />
técnica, e isso termina obscurecen<strong>do</strong> e atrapalhan<strong>do</strong> essa