A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

É evidente o silêncio imposto, a tentativa dos alunos de
corresponderem à máxima de não se envolver muito. Demonstrar emoção
estaria contrariando esse alcance. No entanto, eles reclamam a necessidade
de espaço para tal expressão, buscando esse apoio prioritariamente fora da
escola médica.
Nas pesquisas de Vianna et al. (1998) e nos estudos de Eizirik et al.
(2000), foi observado que o tema da morte e suas emoções eram abordados
entre os alunos em conversas com amigos e familiares, sugerindo para eles
a busca de um grupo de identificação com vivência, atitudes e faixa etárias
similares. Esses autores relatam ainda um número considerável de médicos
e professores que permanece com muita dificuldade para tratar do assunto,
chegando mesmo a evitá-lo.
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Pensamos que a outra grande dor dos doutores herdeiros de
Prometeu é o que Ésquilo tratou como dádiva: a interdição sobre a morte. O
silêncio em torno dela, o não-reconhecimento de sua existência, a tentativa
desenfreada de derrotá-la, que tem marcado a saga das ciências médicas,
falam de uma falta de habilidade para lidar com a dor, o sofrimento, os
desejos e até alegrias diante da morte encenada.
O mito de Prometeu nos lembra ainda o fato de que, por mais que a
medicina tente traduzir o sofrimento por sintoma, que os filhos de Asclépios
aprendam, durante sua formação, que os sentimentos são algo do qual se
devem afastar, essa prescrição não protege definitivamente da dor temida
pelo envolvimento, nem de uma possível ineficácia terapêutica.