A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

fora da caverna (alegoria platônica). Seu desvelar-se vai depender dos
degraus de luminosidade, que vão do fundo da caverna até seu exterior;
itinerário que coincide de forma decisiva com as várias etapas em que a
coisa aparece, tornando-a acessível em seu aspecto – idéia
(Michelazzo,1999).
Heidegger (1978), criticando a racionalidade científica moderna,
afirma que a essência da verdade (alétheia) perde seu traço central em torno
do não-velamento, ao desviar seu olhar das sombras (da caverna) para
aprender as coisas, no que se vê de uma maneira exata, vinculando-se a
outra essência – à orthótes, à exatidão.
Em outras palavras, a verdade sobre a doença do doente, no interior
do corpo morto e depois do corpo vivo, vai se tornando acessível quanto
mais for sendo possível conformar o olhar e o entendimento do médico em
torno de uma concepção de verdade livre de sombras (dúvidas,
subjetividade), a mais exata possível, uma verdade adquirida na
conformação diagnóstica elaborada pelo médico. Conclui Michelazzo (1999,
p. 35):
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Para que a exatidão apareça é agora necessário que tanto o
olhar como o conhecimento estejam corretos, e estar corretos
aqui é conformar-se, adaptar, acordar, em grego se diz
homoíosis. A verdade acontece, então, quando o acordo
(homoíosis) entre o entendimento e a coisa mesma for exato
(orthótes).
A medicina passa a se apoiar na morte como objeto de estudo para
se estabelecer como um conhecimento científico. É da exatidão e