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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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formação humana.” [Fragmento <strong>de</strong> entrevista – Felipe -<br />

4ºano/8º perío<strong>do</strong>].<br />

“Discutir”, “esclarecer”, “tranqüilizar”, saber como o paciente se sente,<br />

implicam necessariamente saber ouvi-lo. Implica valorização pelo ensino <strong>de</strong><br />

uma escuta qualificada, que neste caso é <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> para o segun<strong>do</strong> plano ou<br />

para plano nenhum. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> uma escuta curiosa e atenta convive com a<br />

busca obstinada por aquisição <strong>de</strong> conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s técnicas.<br />

Quan<strong>do</strong> o médico se afasta <strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong>ente, quan<strong>do</strong> evita o<br />

encontro, o compromisso com o sofrer humano vai sen<strong>do</strong> respondi<strong>do</strong> alian<strong>do</strong><br />

a resposta tecnocientífica à razão utilitarista e à lógica da compaixão<br />

pie<strong>do</strong>sa que partem <strong>de</strong> uma mesma certeza – invocam o nome e o bem<br />

daqueles que dizem assistir (Caponi, 2000). Ambas dizem sem consultar os<br />

beneficia<strong>do</strong>s, sem conhecer o que é melhor para eles, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> claro e<br />

distinto.<br />

Para a referida autora, a razão utilitarista prescreve normas<br />

inapeláveis pelo bem <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, impõe e regulamenta condutas. A compaixão<br />

pie<strong>do</strong>sa, pela força <strong>do</strong> sentimento compartilha<strong>do</strong>, aproxima os sofre<strong>do</strong>res<br />

sem necessitar <strong>de</strong> argumentos, mas tem seu aspecto <strong>de</strong>sumanizante porque<br />

faz das diferenças o fundamento para relações dissimétricas que ela institui<br />

entre o benfeitor e o assisti<strong>do</strong>, geran<strong>do</strong> obediência e <strong>de</strong>pendência, uma<br />

sensação <strong>de</strong> dívida e gratidão. Todas essas estratégias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

prescin<strong>de</strong>m <strong>de</strong> argumentos, excluem as palavras e silenciam qualquer<br />

diálogo, como nos exemplificou o aluno <strong>do</strong> quarto ano, ao discorrer sobre<br />

seu aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa perspectiva.

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