12.04.2013 Views

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

89<br />

“Eu acho que você <strong>de</strong>ve ter tranqüilida<strong>de</strong> assim (pausa)<br />

Sinceramente falan<strong>do</strong>, eu enten<strong>do</strong> como um fim, eu acho que<br />

<strong>de</strong>pois da morte não tem mais nada. É triste ter que per<strong>de</strong>r as<br />

pessoas que você gosta, mas é o processo natural, melhor<br />

não pensar e encarar naturalmente, e o médico vai lutar<br />

contra isso.“ [Fragmento <strong>de</strong> entrevista - Rodrigo, resi<strong>de</strong>nte<br />

2]<br />

“Quan<strong>do</strong> penso em morte é tristeza, <strong>do</strong>r, mas em relação a<br />

um paciente é também em fracasso. Mas eu não penso<br />

muito, é que você perguntou.” [Fragmento <strong>de</strong> entrevista<br />

Fernanda, 4º ano /8º perío<strong>do</strong>]<br />

Elias (2001, p.36) constata:<br />

Apenas as rotinas institucionalizadas <strong>do</strong>s hospitais dão<br />

alguma estruturação social para a situação <strong>de</strong> morrer. Essas,<br />

no entanto, são em sua maioria <strong>de</strong>stituídas <strong>de</strong> sentimentos e<br />

acabam contribuin<strong>do</strong> para o isolamento <strong>do</strong>s moribun<strong>do</strong>s.<br />

Nesse cenário o que temos é o local da morte sen<strong>do</strong> cada vez mais<br />

transferi<strong>do</strong> <strong>do</strong> lar para o hospital, sob a justificativa <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s<br />

especializa<strong>do</strong>s e intensivos que o avanço da medicina proporcionou. O<br />

paciente que não tem mais como sobreviver encontra muitas vezes sua<br />

última morada em uma UTI. Nessas circunstâncias, nossos mortos morrem<br />

sozinhos em hospitais, cerca<strong>do</strong>s por aparelhos e tubos. Transformamos um<br />

<strong>do</strong>s momentos mais importantes <strong>de</strong> nossa existência em um ato impessoal,<br />

mecânico e mais solitário ainda. Portanto, por vezes, digno <strong>de</strong> repulsa e<br />

temor para pacientes e familiares, e sinônimo <strong>de</strong> fracasso para médicos, que<br />

nem sempre reconhecem que o ato <strong>de</strong> acompanhar o processo <strong>de</strong> morte <strong>de</strong><br />

um paciente também lhes cabe e po<strong>de</strong> representar êxito e reconhecimento<br />

para além <strong>do</strong> salvar uma vida. Temos nesses casos uma morte limpa,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!