A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
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Transmitir más notícias é uma arte, um compartilhamento da<br />
<strong>do</strong>r e <strong>do</strong> sofrimento; requer tempo, sintonia, privacida<strong>de</strong>. É<br />
difícil imaginar esta realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto <strong>de</strong> um<br />
hospital com suas rotinas e ativida<strong>de</strong>s.<br />
O resi<strong>de</strong>nte 1 argumenta acerca <strong>de</strong> sua atitu<strong>de</strong> em conversar com o<br />
paciente, revelan<strong>do</strong> a constante presença da comunicação exercida por<br />
meio <strong>de</strong> nossos comportamentos <strong>de</strong> esquiva, ou por meio <strong>de</strong> gestos e<br />
expressões, apontan<strong>do</strong> assim para a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não comunicar. No<br />
dizer <strong>de</strong> Watzlawick (1967, p. 44), “negar consolo é possível, mas negar<br />
comunicação não é possível”. O referi<strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte também chama nossa<br />
atenção para o uso <strong>do</strong> discurso <strong>de</strong>squalifica<strong>do</strong>r utiliza<strong>do</strong> por outros<br />
profissionais.<br />
comenta:<br />
Eis a sua fala:<br />
“Eu sempre procuro conversar. Estou lidan<strong>do</strong> muito com isso<br />
agora, e é bem difícil, mas o paciente percebe <strong>de</strong> alguma<br />
forma. Ou pelo jeito da família, ou seu próprio esta<strong>do</strong>, e até<br />
se o médico começar a fugir <strong>de</strong> uma pergunta. Eu prefiro<br />
falar para ele não per<strong>de</strong>r a confiança em mim. Não digo<br />
assim que ele vai morrer diretamente, porque ninguém sabe,<br />
mas também não digo: - olhe, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> morre! - como<br />
já vi fazerem. Eu digo que ele não tem mais chance <strong>de</strong><br />
cura. Aí ele tem chance <strong>de</strong> junto com a família comigo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cidir se fica no hospital, enten<strong>de</strong>? Eu estou apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
fazen<strong>do</strong> e às vezes encontro o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> algum médico,<br />
isso ajuda, é importante para você não se sentir muito<br />
só, ter um parâmetro <strong>de</strong> que ta in<strong>do</strong> certo. Durante o<br />
curso to<strong>do</strong> agente não apren<strong>de</strong> nada disso, até fala em<br />
humanização, em relação médico-paciente,<br />
principalmente no currículo novo, mas e na hora da<br />
morte como é?” [Fragmento <strong>de</strong> entrevista – Ricar<strong>do</strong><br />
/resi<strong>de</strong>nte 1].<br />
Pereira (2005, p.176), discorren<strong>do</strong> sobre o discurso <strong>de</strong>squalifica<strong>do</strong>r,