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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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O aluno argumenta que é preciso <strong>de</strong>smitificar a morte, é preciso<br />

esquecer o morto, para se acostumar e trabalhar com “aquilo”, mas teme<br />

chegar pelo hábito, à mesma frieza necessária com o cadáver, diante <strong>de</strong> seu<br />

paciente em “situações difíceis”. “Aquilo” é o cadáver, as “situações difíceis”<br />

são os sofrimentos e a morte <strong>do</strong> paciente, representan<strong>do</strong> o “isso” com o qual<br />

não po<strong>de</strong>m se envolver. Termina sua fala refletin<strong>do</strong> sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

rever a postura mecanicista, sob o risco <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sumanizar. Nessa direção,<br />

Martins (2004, p. 27) afirma que nosso corpo não se encaixa na abstração<br />

da máquina, senão ao preço <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s perdas.<br />

151<br />

O exemplo abaixo segue a mesma direção e revela o quanto eles<br />

introjetam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> não se envolverem muito no sofrimento <strong>do</strong><br />

paciente, para conseguirem ser médicos. Assimilam que é preciso<br />

“agüentar” os choques iniciais nas aulas <strong>de</strong> anatomia, como parte <strong>do</strong><br />

aprendiza<strong>do</strong> da formação para lidar com o paciente à morte no futuro. Eis o<br />

<strong>de</strong>poimento:<br />

“Eu acho que é como se fosse meio <strong>de</strong> propósito, não sei,<br />

querem dar um choque e que a gente fique frio pra po<strong>de</strong>r<br />

agüentar, eu acho que em certo ponto agente tem que ter,<br />

não é nem uma frieza, eu acho que tem ser um controle uma<br />

estabilida<strong>de</strong>. Porque se você absorver tu<strong>do</strong> o que o paciente<br />

tiver passan<strong>do</strong>, no <strong>de</strong>sespero, ou se chorar, se envolver<br />

muito, você não consegue ficar <strong>de</strong> fora pra resolver. E o<br />

paciente que for morrer então, aí é que você não agüenta.<br />

É que eu acho que isso é necessário mas esse choque que<br />

eles dão na gente é exagero. Não justifica não. Eu quero<br />

enten<strong>de</strong>r, mas acho que não justifica, não.” [Fragmento da<br />

entrevista – Fernanda 4º ano/8º perío<strong>do</strong>]<br />

A aluna reconhece a proposição (“Não po<strong>de</strong> se envolver muito”) mas<br />

critica os meios usa<strong>do</strong>s na condução das aulas <strong>de</strong> Anatomia para validação

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