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A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

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higiênica, técnica, solitária e, às vezes, “<strong>de</strong>sumana” para to<strong>do</strong>s os<br />

envolvi<strong>do</strong>s.<br />

É fato que toda racionalida<strong>de</strong> (mesmo a racionalida<strong>de</strong> científica)<br />

conserva suas bases em valores, interesses e investimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, que<br />

permeiam o conjunto <strong>de</strong> representações, concepções e teorizações que a<br />

<strong>de</strong>finem como racionalida<strong>de</strong> (Luz, 1988). Sen<strong>do</strong> assim, num mun<strong>do</strong> on<strong>de</strong> se<br />

cultuam corpos sãos, ativos, produtivos, reprodutivos; <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema<br />

cujo objetivo é a eficiência, a rentabilida<strong>de</strong> e o consumo, tolerar a existência<br />

da morte e tu<strong>do</strong> que a lembre, por exemplo, os pacientes “terminais”, é no<br />

mínimo dificílimo – torna-se imprescindível exorcizá-la também em nome da<br />

manutenção <strong>do</strong> nosso mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida consumista, volta<strong>do</strong> para noções<br />

instituídas <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> e progresso (Silva, 2004).<br />

Por tu<strong>do</strong> isso, os pacientes terminais incomodam muito a uma<br />

socieda<strong>de</strong> com as características da nossa. Uma socieda<strong>de</strong> que após tanta<br />

negação não suporta sequer os sinais da morte física. É o que nos lembra<br />

José Carlos Rodrigues (1976, p.138):<br />

90<br />

[...] a socieda<strong>de</strong> vê no homem a sua imagem projetada,<br />

gravada, portanto as forças que o constituem <strong>de</strong>vem ter a<br />

mesma perenida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>struição <strong>do</strong> corpo turva a sua<br />

imagem, sobretu<strong>do</strong> enquanto ele se consome. Obriga a<br />

socieda<strong>de</strong> a refletir sobre si e os homens a pensar em seus<br />

<strong>de</strong>stinos. Evi<strong>de</strong>ncia-lhes suas vulnerabilida<strong>de</strong>s. Para uma<br />

socieda<strong>de</strong> que se crê imortal, o espetáculo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong><br />

objeto em que se vê não po<strong>de</strong> ser suporta<strong>do</strong>. Não po<strong>de</strong><br />

suportar que os membros que a representam que os corpos<br />

em que existe, estejam <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a perecer.<br />

Ao negar a experiência da morte e <strong>do</strong> morrer, a socieda<strong>de</strong> coisifica o<br />

homem. Essa negação exacerbada faz com que muitas vezes nos tornemos

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