A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
218<br />
comportamento da médica, a moça <strong>de</strong> 19 anos tava no dia da<br />
alta <strong>de</strong>la e tava aparentemente bem, aí na frente da paciente<br />
a médica começou a falar, olha teve um colega meu que foi<br />
pra São Paulo fazer residência e eu olhei pra ele e falei que<br />
ele tava com lupus, e ele disse que não, fez exames e <strong>de</strong>ram<br />
to<strong>do</strong>s normais, e ele morreu <strong>de</strong> lupus. Na frente da menina,<br />
no dia que ela tava ten<strong>do</strong> alta, em condições normais, a<br />
menina arregalou os olhos e por um momento a gente se<br />
olhou, mas a professora nem notou, continuou: - pois é, é por<br />
isso que não é garanti<strong>do</strong>, os exames dá tu<strong>do</strong> normal, e<br />
morreu disso.<br />
A garota pálida ali na frente <strong>de</strong>la e to<strong>do</strong>s os alunos ao re<strong>do</strong>r<br />
da cama da paciente. To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> cala<strong>do</strong>. Eu fiquei chocada.<br />
Nunca esqueci disso. Tem muito médico insensível, parece<br />
que não tem um ser humano ali na frente <strong>de</strong>le. É tu<strong>do</strong> que eu<br />
não quero ser um dia.” [Fragmento <strong>de</strong> entrevista – Fernanda -<br />
4º ano/8º perío<strong>do</strong>]<br />
“Pois é, nas outras não é aborda<strong>do</strong> mesmo, a gente teve<br />
inclusive assim um episódio que foi numa aula <strong>de</strong> endócrino<br />
que a gente tava aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a paciente, e quan<strong>do</strong> a gente<br />
olha o exame era maligno, era uma biopsia <strong>de</strong> tireói<strong>de</strong> que<br />
tinha maligno, chega a gente ficou assim, um olhou pra cara<br />
<strong>do</strong> outro, é, vamos chamar a professora, que a gente não<br />
sabia como falar, não sabia mesmo, e aí foi chamar a<br />
professora, e juntou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inclusive <strong>do</strong>s outros grupos<br />
pra ver como que ela ia falar, porque ninguém sabia como<br />
que ela ia dar essa notícia pra paciente, a gente não sabia<br />
como se fazia isso.<br />
A paciente começou a chorar, mas a professora foi paciente e<br />
explicou tu<strong>do</strong>, era um câncer besta, ela ia ficar curada com a<br />
tireoi<strong>de</strong>ctomia, mas a paciente acha que vai morrer, mas ela<br />
se acalmou. Foi muito bom, a gente pô<strong>de</strong> ver, ter uma idéia<br />
<strong>de</strong> como fazer”. [Fragmento <strong>de</strong> entrevista – Telma - 3º ano/<br />
6º perío<strong>do</strong>]<br />
“Outro momento que eu achei interessante na relação<br />
médico-paciente que a gente teve, foi, teve uma paciente que<br />
tinha hipertireoidismo, toda <strong>de</strong>scompensada, fazia <strong>de</strong>z anos<br />
que era mal tratada, jogada <strong>de</strong> um canto pro outro, e aí<br />
quan<strong>do</strong> ela chegou no consultório, a médica falou, não você<br />
vai ter que ficar internada, a mulher começou a chorar,<br />
começou a chorar, e tipo ela só aceitou que tinha que ficar<br />
porque a médica man<strong>do</strong>u, aí a médica falou assim, <strong>de</strong>pois<br />
que terminou tu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>pois vocês tirem um tempinho e vão lá<br />
na enfermaria conversar com essa paciente, aí juntou eu e<br />
mais <strong>do</strong>is colegas e gente foi lá conversar com a paciente, e<br />
assim, eu achei que foi um momento muito bom porque a<br />
paciente começou conversan<strong>do</strong> com a gente choran<strong>do</strong> e<br />
olhan<strong>do</strong> pra o chão, quan<strong>do</strong> terminou ela tava olhan<strong>do</strong> pra<br />
gente e falan<strong>do</strong> que ia ficar boa, naqueles 15 minutos que a<br />
gente teve com ela, e isso foi um aspecto positivo como só<br />
conversar... E a gente foi só conversar mesmo, ela falava que