A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

indivíduos que, socializados por meio da comunicação, se reconhecem
reciprocamente.
Se o mito de Prometeu mutilado inspirou conhecimentos restritos ao
saber médico no que tange à humanização, a mensagem do deus Hermes
aponta as trilhas para esse reencontro na vida e diante da morte.
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Hermes, filho de Zeus e de Maia, considerado mensageiro dos
deuses, protetor dos caminhos, tinha permissão de estar nos três mundos:
Olímpo, Terra, e mundo de Hades (dos mortos). Guiava os seres em sua
mudança de estado: da vida para a morte e da morte para a vida. Era a
barganha com a palavra e a rapidez do pensamento e ação que o permitia
interpretar e transmitir os desígnios dos outros deuses, de onde vem o
epíteto hermeneus (intérprete), originando a palavra hermenêutica. Sua
astúcia, humor e habilidade com a palavra são o que lhe permitia abrir
caminhos. Era um deus que não tinha casa, mas ao habitar a casa de outro
o fazia sem ocupá-la.
Diante de uma prática que em algum momento vai arder a alma e
queimar os dedos, é preciso aprender a desenvolver a habilidade com as
palavras de maneira que os diagnósticos, tratamento, processos decisórios,
prognósticos possam ser compartilhados entre pacientes e médicos. Por
meio de uma razão consensual, por ser comunicativa; aprender a habitar a
casa do outro sem ocupá-la, como ensina a aproximação hermenêutica.
Ser capaz de transitar nas sombras vai significar olhar para as
próprias dores, cuidar delas para cuidar do outro – portanto, retirar a
subjetividade do parênteses para enfrentar a intersubjetividade, a existência