A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

175
As vozes dos estudantes e residentes indicaram, por um lado, o
percurso de suas dificuldades no encontro com a morte e, por outro,
algumas pistas capazes de pavimentar novos caminhos no lidar com a dor
que envolve a morte na prática médica.
6.1 O encontro com a morte encenada
Os filhos de Asclépio iniciam sua formação no contato com a morte
sem subjetividade, história e por vezes “sem rosto”, ao evitarem a face dos
cadáveres como estratégia para o enfrentamento dos estudos anatômicos,
onde se dá o ensaio para as futuras atuações médicas. Trata-se do encontro
com uma morte morta, sem alma. Evitando a face, eles esquecem que ali se
carregava vida, ou pelo menos precisam esquecer.
Fato é que, quando eles se encontram na prática com o futuro morto,
com a morte encenada, onde corpo, alma, alegrias e dores se apresentam,
os conflitos e os paradoxos entre as concepções desejadas para esse
enfrentamento e os pressupostos assimilados ganham expressão nas
interações intersubjetivas concretamente vividas.
Vejamos como nossos estudantes e residentes descreveram o
primeiro contato com a morte de um paciente. Ou seja, como foi o encontro
com “a cara da morte viva”? Quais os sentimentos vivenciados nessa
situação? E o que fizeram com eles?
Nas entrevistas identificamos que não só o tema morte é evitado,
pouco abordado; bem como a experiência com a morte de um paciente,