A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
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<strong>do</strong> médico como o <strong>de</strong>tentor <strong>do</strong> <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> seu paciente, aquele que não <strong>de</strong>ve<br />
se envolver emocionalmente, mas <strong>de</strong>ve dizer a verda<strong>de</strong> ao seu paciente (“se<br />
ele quiser, é claro”). E <strong>de</strong>ve, diante da proximida<strong>de</strong> da morte, promover<br />
conforto físico e conforto emocional aos familiares. Já as falas <strong>de</strong> outros <strong>do</strong>is<br />
resi<strong>de</strong>ntes comungam com o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> rehumanização <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
morrer, cujas características já foram mencionadas.<br />
Em outras palavras, é possível observar a presença <strong>do</strong>s discursos<br />
her<strong>de</strong>iros da racionalida<strong>de</strong> biomédica; cuja normativida<strong>de</strong> tecnocientífica, ao<br />
tentar eliminar as emoções, termina por distanciar-se <strong>do</strong> outro, conviven<strong>do</strong><br />
com as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> médicos que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma racionalida<strong>de</strong> que, sem<br />
prescindir da tecnociência, busque aliar sua atenção ao senti<strong>do</strong> existencial<br />
da experiência <strong>do</strong> a<strong>do</strong>ecimento, seja na recuperação da saú<strong>de</strong> ou no<br />
acompanhamento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> morte.<br />
As “cenas” elaboradas por <strong>do</strong>is resi<strong>de</strong>ntes apontam na direção<br />
sugerida pelos mo<strong>de</strong>los diferentes <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong>. Trazem como elemento<br />
central a questão da comunicação. O quê dizer, a quem dizer e como dizer<br />
perpassam as “cenas” e nos dão pistas sobre o percurso <strong>de</strong> nossos<br />
resi<strong>de</strong>ntes.<br />
204<br />
“Estou com meu paciente terminal, num quarto <strong>do</strong> hospital,<br />
um apartamento, com uma cama <strong>de</strong> hospital no centro <strong>do</strong><br />
quarto, uma ca<strong>de</strong>ira e uma tv ligada. No quarto está também<br />
a enfermeira, ajeitan<strong>do</strong> o soro <strong>do</strong> paciente, e alguns<br />
familiares, a esposa, seguran<strong>do</strong> a mão <strong>de</strong>le e em pé ao la<strong>do</strong><br />
da cama e um filho, na ca<strong>de</strong>ira, olhan<strong>do</strong> para os pais. A<br />
esposa está triste, com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> chorar, e lágrimas<br />
escorrem pelo seu rosto, ela não quer que ele morra, mas o<br />
fim está próximo, ele segura a mão da esposa e diz que ela<br />
não fique triste, que aju<strong>de</strong> a família. Ele sabe que tem uma<br />
<strong>do</strong>ença grave, já há algum tempo, e se preparou para essa