A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

manipulado é o cadáver, geralmente pouco tocado e temido pelo senso
comum, principalmente quando despojado de uma relação de subjetividade.
Vejamos como os estudantes abordam a questão de sua preparação
para começar o trabalho com os cadáveres.
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“Eu tenho muita expectativa, é um momento muito
importante, só para os médicos mesmo.” [Fragmento de
entrevista – Patrícia - 1º Ano/1º período]
“O preparo é no sentido assim de ter respeito, foram
pessoas que morreram e doaram seus órgãos para
estudo, para o desenvolvimento da ciência. Então você
tem que ter o maior respeito com os cadáveres. Através deles
você vai aprender. Ele será seu primeiro paciente.”
[Fragmento de entrevista - Deborah - 2º Ano/ 4º período]
“Tem a missa do cadáver, acho que já é pra impor um
respeito aos cadáveres, pra não brincar na sala.”
[Fragmento de entrevista – Taciana - 3º Ano/5º período]. 7
A fala da aluna do primeiro ano reflete a expectativa de atravessar o
início da linha demarcatória para adentrar no universo de “ser médico”, a
importância e prestígio desse espaço restrito.
Por sua vez, a estudante do quarto ano reforça essa questão,
acenando que é preciso enfrentar os sofrimentos iniciais solitariamente e ser
bem-sucedido numa etapa que constitui a primeira prova para “ser médico”.
“Eu acho que o professor devia, não sei, conversar, dar uma
orientação. Uma coisa que é interessante lá é que o
professor prezava muito pelo respeito pelo cadáver, que tem
pessoas que até doam seus corpos, eu achava interessante,
o não brincar, zoar, brincar com nenhuma parte do corpo
dele, de não sei, alguma gracinha, alguma coisa. Ele
7 Trata-se de uma missa celebrada no início do ano em homenagem aos cadáveres, mas
que poucos alunos comparecem.