A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...
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“Paciente atendi<strong>do</strong> em PS, cirrótico crônico <strong>de</strong> etiologia<br />
alcoólica, andarilho, <strong>de</strong>scompensa<strong>do</strong>, hemorragias,<br />
insuficiência renal, hepática, encefalopatia. Sem familiares,<br />
amigos ou quaisquer perspectiva terrena <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s caso<br />
não estivesse enfermo. Sem medidas possíveis que possam<br />
prolongar sua vida por mais <strong>de</strong> um dia. Tem um filho, mas<br />
não gostaria que este fosse comunica<strong>do</strong> sobre a situação,<br />
pois o aban<strong>do</strong>nou há muito tempo. O paciente, <strong>de</strong> nome José<br />
da Silva, começa a relatar seus arrependimentos passa<strong>do</strong>s<br />
(alucinações?).(medicalização <strong>do</strong> sofrimento emocional)<br />
Pe<strong>de</strong> para que alguém permaneça com ele até o fim, já<br />
mostran<strong>do</strong> saber o que ocorrerá em poucas horas. A equipe<br />
médica tenta contactar o filho sem sucesso. Faz-se um<br />
esquema <strong>de</strong> sedação ao paciente, para que ele não sofra<br />
<strong>de</strong> pa<strong>de</strong>cimentos, e o médico aguarda, a beira <strong>do</strong> leito,<br />
asseguran<strong>do</strong> que aquele indivíduo tenha, no mínimo,<br />
uma boa morte. Após o êxito letal, o médico informa ao<br />
serviço <strong>de</strong> assistência social, e pe<strong>de</strong> para que se contate<br />
algum familiar ou amigo, sobre o ocorri<strong>do</strong>, e que em caso <strong>de</strong><br />
aparecer alguém, chamá-lo para que possa explicar a<br />
situação. Uma ex-mulher aparece ansiosa, o médico lhe dá<br />
as explicações e con<strong>do</strong>lências <strong>de</strong> forma acalenta<strong>do</strong>ra,<br />
compreensivo e sincero, e permanece com ela até que a<br />
mesma se acalme. E então retorna ao trabalho, pois tu<strong>do</strong> isso<br />
já faz parte <strong>de</strong>le” [Tibério - 3º ano/ 5º perío<strong>do</strong>]<br />
O elemento central nas discussões <strong>de</strong>sse grupo (1º, 2º e 3º anos),<br />
durante a oficina, ocorreu em torno <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sejos e dificulda<strong>de</strong>s para<br />
conseguirem confortar emocionalmente os pacientes e familiares – ou seja,<br />
para alcançarem o almeja<strong>do</strong> envolvimento emocional equilibra<strong>do</strong> (cita<strong>do</strong> por<br />
to<strong>do</strong>s eles nas entrevistas e enfatiza<strong>do</strong> na oficina). Eles constataram que as<br />
<strong>de</strong>spedidas ocorridas nas “cenas”, bem como a realização <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> não<br />
morrer sozinho <strong>de</strong> um paciente, só foram proporcionadas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao tipo <strong>de</strong><br />
relacionamento <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, marca<strong>do</strong> por uma disponibilida<strong>de</strong> para ouvir o<br />
outro (mesmo nas situações <strong>de</strong> emergência como foi o caso da cena <strong>de</strong><br />
Tibério/3º ano). Foi possível entre médicos, pacientes e familiares, po<strong>de</strong>r<br />
falar sobre a proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong> fim.