A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

Pereira e Batista (2005, p.16), comentando Castro 4 , dizem que o
educando é ensinado a direcionar a entrevista com o paciente, quando este
tem a imensa necessidade de falar, levando a conversa para o nosso
interesse, de acordo com o nosso juízo, direcionando-a conforme nossa
avaliação. “Achamo-nos no direito de fazer o paciente esperar e, quando
finalmente está diante de nós, cerceamos-lhe a possibilidade de expressar o
que sente, no sentido mais amplo da palavra”.
Trata-se de comportamentos pautados na lógica de que quanto mais
conhecimento se adquire sobre o corpo humano, maior é o distanciamento
da pessoa humana. O corpo e os instrumentos usados para acessá-lo nos
levam às almejadas respostas claras da cosmologia mecanicista. Já uma
aproximação com o ser humano e seu sofrimento significa ter que adentrar
no terreno das incertezas, lugar não desejado pela medicina moderna
tecnocientífica.
Foucault (1987) já havia ensinado que podemos observar os
excessivos conteúdos de natureza anátomo-fisiológica e os rituais
acadêmicos cotidianos conformando o futuro profissional em saúde,
adequando-o para esquadrinhar, seccionar, observar pontualmente e moldar
indivíduos a serem medicalizados. Ou seja, promovem, em conjunto, a
separação do olhar técnico-especializado, com sua ação discursiva sobre a
doença, das demais dimensões da experiência humana.
Concomitantemente, contribuem para a construção dos corpos médicos
disciplinados. O saber médico acaba por ser concebido e seu discurso
4 Castro FC. Os temores na formação e prática da Medicina: aspectos psicológicos. Rev
Bras Educ Méd. 2004; 28(1): 38-45.
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