A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

5 DIALOGANDO II: O SER MÉDICO E A MORTE – A INICIAÇÃO MÉDICA
NA DISTÂNCIA DO SIMPLES OLHAR
“O que mata um jardim é esse olhar vazio de
quem por eles passa indiferente”
Mário Quintana
Nesse plano analítico serão discutidas as orientações recebidas pelos
estudantes/residentes de medicina em relação ao lidar com a morte na
prática médica. Analisaremos o modo como as concepções que emergem de
seus discursos se articulam com as proposições legitimadas como
“verdades” na formação médica. Ou seja, analisaremos os pressupostos,
conceitos e evidências em torno do lidar com o processo de morte de um
paciente, assimilados pelos entrevistados na formação médica.
5.1 Abordagem da morte: a “inominada da gente”
Manuel Bandeira, poeta que se intitulava um tísico profissional,
conviveu durante muitos anos com a iminência da morte. Referia-se a ela
como “a indesejada da gente”. Assim ele se referia a ela sem denominá-la
de fato. Dizia ele:
Quando a Indesejada da gente chegar (não sei se dura ou
coroável) / Talvez eu tenha medo / Talvez sorria, ou diga: Alô,
iniludível!/ Meu dia foi bom, pode a noite descer (A noite com
seus sortilégios) / Encontrará a casa limpa, A mesa posta /
Com cada coisa em seu lugar.(Bandeira, 1961)