A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

5.3 Do cadáver ao primeiro paciente à morte: uma questão de
envolvimento e comunicação
143
A porta da verdade estava aberta, mas só
deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim,
não era possível atingir toda a verdade, porque a
meia pessoa que entrava só trazia o perfil da
meia-verdade. E sua segunda metade voltava
igualmente com meio perfil. E os meios perfis
não coincidiam. Arrebataram a porta.
Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar
luminoso onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades diferentes uma da
outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais
bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. E
carecia optar. Cada um optou conforme seu
capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
Retomar a abordagem do tema da morte ao longo do curso médico e
o enfrentamento das aulas de Anatomia se faz necessário para chegarmos
às “verdades” abraçadas pelos estudantes/residentes de medicina sobre o
“ser médico” e sua relação com a morte.
Buscarmos responder: que pressupostos, conceitos e evidências em
torno do lidar com o processo de morte de um paciente são assimilados
pelos entrevistados em sua formação médica? As concepções que emergem
dos discursos dos estudantes/residentes se articulam com as proposições
legitimadas como verdades na formação médica?
Na construção do “ser médico”, os discursos dos estudantes e
residentes revelam os argumentos assimilados e os conflitos
experimentados na apropriação do discurso médico, permitindo-nos
compreender a perspectiva com a qual exercerá, em sua prática médica, o