A Construção do “ser médico” - Centro de Referência e Treinamento ...

utilizados segundo Ana Pitta (1999) para defender o profissional do contato
com seu paciente, implicando um uso instrumental da linguagem que
promove o distanciamento e a submissão do mesmo. Já a comunicação
transparente significa dizer a verdade – contar propriamente a notícia ruim.
Exige, por sua vez, um aprendizado sobre como fazer se não quiser fazer
um uso meramente pragmático da linguagem, como exemplifica o aluno:
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“eu não quero chegar e dizer assim: - você tem um carcinoma
tal, e vamos tratar assim assado. Acho que deve explicar de
um jeito que ele entenda, sem mentir, mas tirando as
dúvidas, deixar o cara falar dos medos dele, né?” [Fragmento
de entrevista - Felipe - 4º ano/8º período]
Tal abordagem significa, na prática médica, um compartilhar entre
médicos e pacientes de signos e sensações que compõem os aspectos
simbólicos e psicológicos do ser humano. Ou seja, significa preparar-se para
ouvir o outro em suas demandas existenciais. Um ouvir que abre espaço
para o jogo de perguntas e respostas – permitindo a possibilidade de
compartilhar decisões, desejos, últimos projetos, resgatando a autonomia do
paciente.
A autonomia é um princípio ético, definido por Fabbro (1999) como
respeito à vontade, ao direito de governar-se, participando ativamente dos
cuidados a sua vida. Para ele só se pode falar em autonomia quando há
compartilhamento de conhecimento e informação, disponibilizando os dados
importantes em linguagem acessível para que qualquer decisão possa ser
tomada, envolvendo o exercício da competência (Kovács, 2003).