A Grande Controvérsia
“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...
“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A <strong>Grande</strong> Controversia<br />
levada a maior preeminência perante as autoridades da Terra. O rei Fernando havia-se<br />
negado a ouvir os príncipes evangélicos; mas a estes deveria ser concedida oportunidade<br />
de apresentar sua causa na presença do imperador e dos dignitários da Igreja e do Estado,<br />
em assembléia. A fim de acalmar as dissensões que perturbavam o império, Carlos V, no<br />
ano que se seguiu ao protesto de Espira, convocou uma Dieta em Augsburgo, anunciando<br />
sua intenção de presidir a ela em pessoa. Para ali foram convocados os dirigentes<br />
protestantes.<br />
<strong>Grande</strong>s perigos ameaçavam a Reforma; mas seus defensores ainda confiavam sua<br />
causa a Deus e se comprometiam a ser leais ao evangelho. Os conselheiros do eleitor da<br />
Saxônia insistiram com ele para que não comparecesse à Dieta. O imperador, diziam eles,<br />
exigia a assistência dos príncipes a fim de atraí-los a uma cilada. “Não é arriscar tudo, ir e<br />
encerrar-se alguém dentro dos muros de uma cidade, com um poderoso inimigo?” Outros,<br />
porém, nobremente declaravam: “Portem-se tão-somente os príncipes com coragem, e a<br />
causa de Deus está salva.” “Deus é fiel; Ele não nos abandonará”, disse Lutero. -<br />
D’Aubigné. O eleitor, juntamente com seu séquito, partiu para Augsburgo. Todos<br />
estavam cientes dos perigos que o ameaçavam, e muitos seguiram com semblante triste e<br />
coração perturbado. Mas Lutero, que os acompanhou até Coburgo, reviveu-lhes a fé<br />
bruxuleante cantando o hino, escrito naquela viagem: “Castelo forte é nosso Deus.” Ao<br />
som dos acordes inspirados, foram banidos muitos aflitivos sinais e aliviados muitos<br />
corações sobrecarregados.<br />
Os príncipes reformados resolveram redigir uma declaração sistematizada de suas<br />
opiniões, com as provas das Escrituras, apresentando-a à Dieta; e a tarefa da preparação<br />
da mesma foi confiada a Lutero, Melâncton e seus companheiros. Esta Confissão foi<br />
aceita pelos protestantes como uma exposição de sua fé, e reuniram-se para assinar o<br />
importante documento. Foi um tempo solene e probante. Os reformadores mostravam<br />
insistência em que sua causa não fosse confundida com questões políticas; compreendiam<br />
que a Reforma não deveria exercer outra influência além da que procede da Palavra de<br />
Deus. Ao virem para a frente os príncipes cristãos a fim de assinar a Confissão,<br />
Melâncton se interpôs, dizendo: “Compete aos teólogos e ministros propor estas coisas;<br />
reservemos para outros assuntos a autoridade dos poderosos da Terra.” “Deus não<br />
permita”, replicou João da Saxônia, “que me excluais. Estou resolvido a fazer o que é<br />
reto sem me perturbar acerca de minha coroa. Desejo confessar o Senhor. Meu chapéu de<br />
eleitor e meus títulos de nobreza não são para mim tão preciosos como a cruz de Jesus<br />
Cristo.” Tendo assim falado assinou o nome. Disse outro dos príncipes, ao tomar a pena:<br />
“Se a honra de meu Senhor Jesus Cristo o exige, estou pronto... para deixar meus bens e<br />
vida.” “Renunciaria de preferência a meus súditos e a meus domínios, deixaria de<br />
preferência o país de meus pais, com o bordão na mão”, continuou ele, “a receber