A Grande Controvérsia
“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...
“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...
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A <strong>Grande</strong> Controversia<br />
Não obstante, sob tantos e tão grandes desalentos, Lutero avançou resolutamente para<br />
a elevada norma de excelência moral e intelectual que lhe atraía a alma. Tinha sede de<br />
saber, e seu feitio de espírito ardoroso e prático, levou-o a desejar o que é sólido e útil em<br />
vez do que é vistoso e superficial. Quando, à idade de dezoito anos, entrou na<br />
Universidade de Erfurt, sua situação foi mais favorável e suas perspectivas mais<br />
brilhantes do que nos primeiros anos. Os pais, havendo pela economia e trabalho<br />
conseguido certo bem-estar, puderam prestar-lhe todo o auxílio necessário. E a influência<br />
de amigos judiciosos, diminuiu até certo ponto os efeitos sombrios de seu ensino anterior.<br />
Aplicou-se ao estudo dos melhores autores, entesourando diligentemente seus mais<br />
ponderados conceitos e fazendo sua própria a sabedoria dos sábios. Mesmo sob a ríspida<br />
disciplina dos mestres anteriores, cedo apresentara ele promessa de distinção; e sob<br />
influências favoráveis, seu espírito logo se desenvolveu. Memória retentiva, vívida<br />
imaginação, poderosa faculdade de raciocinar e aplicação incansável, colocaram-no logo<br />
em primeiro lugar entre seus companheiros. A disciplina intelectual amadureceu-lhe o<br />
entendimento, despertando uma atividade de espírito e agudeza de percepção que o<br />
estavam preparando para os embates da vida.<br />
O temor do Senhor habitava no coração de Lutero, habilitando-o a manter sua firmeza<br />
de propósito e levando-o a profunda humildade perante Deus. Ele tinha uma constante<br />
intuição de sua dependência do auxílio divino, e não deixava de iniciar cada dia com<br />
oração, enquanto o íntimo estava continuamente a respirar uma súplica de guia e apoio.<br />
“Orar bem”, dizia ele muitas vezes, “é a melhor metade do estudo.”<br />
Enquanto um dia examinava os livros da Biblioteca da Universidade, Lutero<br />
descobriu uma Bíblia latina. Nunca dantes vira tal Livro. Ignorava mesmo sua existência.<br />
Tinha ouvido porções dos evangelhos e epístolas, que se liam ao povo no culto público, e<br />
supunha que isso fosse a Escritura toda. Agora, pela primeira vez, olhava para o todo da<br />
Palavra de Deus. Com um misto de reverência e admiração, folheava as páginas sagradas.<br />
Pulso acelerado e coração palpitante, lia por si mesmo as palavras de vida, detendo-se<br />
aqui e acolá para exclamar: “Oh! quem dera Deus me desse tal livro!” -História da<br />
Reforma do Século XVI, D’Aubigné. Anjos celestiais estavam a seu lado, e raios de luz<br />
procedentes do trono de Deus traziam-lhe à compreensão os tesouros da verdade. Sempre<br />
temera ofender a Deus, mas agora a profunda convicção de seu estado pecaminoso<br />
apoderou-se dele como nunca dantes.<br />
Um desejo ardente de se achar livre do pecado e encontrar paz com Deus, levou-o<br />
afinal a entrar para um mosteiro e dedicar-se à vida monástica. Exigiu-se-lhe,ali,efetuar<br />
os mais humildes trabalhos e mendigar de porta em porta. Estava na idade em que o<br />
respeito e a apreciação são mais avidamente desejados, e essas ocupações servis eram<br />
profundamente mortificadoras para os seus sentimentos naturais; pacientemente, porém,<br />
suportou a humilhação, crendo ser necessária por causa de seus pecados.