07.04.2023 Views

A Grande Controvérsia

“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...

“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A <strong>Grande</strong> Controversia<br />

lamento lhe devia empanar a alegria. Enquanto o cortejo se movia vagarosamente através<br />

das ruas regurgitantes de gente, este notava com admiração a imperturbável paz, o alegre<br />

triunfo que trazia no olhar e porte. “Ele está”, diziam, “como alguém que se senta num<br />

templo e medita sobre coisas santas.” -Wylie.<br />

Junto à fogueira, Berquin esforçou-se por dirigir algumas palavras ao povo; mas os<br />

monges, temendo o resultado, começaram a gritar, e os soldados a chocar as armas, e o<br />

rumor abafou a voz do mártir. Assim, em 1529, a mais alta autoridade literária e<br />

eclesiástica da culta Paris, “deu à populaça de 1793 o indigno exemplo de sufocar na<br />

forca as palavras sagradas do moribundo.” -Wylie. Berquin foi estrangulado, e seu corpo<br />

consumido nas chamas. As notícias de sua morte causaram tristeza aos amigos da<br />

Reforma por toda a França. Mas seu exemplo não foi em vão. “Estamos também<br />

prontos”, disseram as testemunhas da verdade, “para enfrentar com ânimo a morte, pondo<br />

nossos olhos na vida por vir.” -História da Reforma no Tempo de Calvino, D’Aubigné.<br />

Durante a perseguição em Meaux, os ensinadores da fé reformada foram proibidos de<br />

pregar, e partiram para outros campos. Lefèvre, depois de algum tempo, tomou rumo da<br />

Alemanha. Farel voltou para sua cidade natal, na França oriental, a fim de disseminar a<br />

luz no lugar de sua infância. Já se haviam recebido notícias do que se passava em Meaux,<br />

e a verdade, por ele ensinada com destemido zelo, atraía ouvintes. Levantaram-se logo as<br />

autoridades para fazê-lo silenciar, sendo ele banido da cidade. Posto que não mais<br />

pudesse trabalhar publicamente, atravessou as planícies e aldeias, ensinando nas casas<br />

particulares, nos prados isolados, encontrando abrigo nas florestas e entre as cavernas<br />

rochosas que haviam sido sua guarida nos tempos de rapaz. Deus o estava preparando<br />

para maiores provas. “Não têm faltado as cruzes, perseguições e maquinações de Satanás,<br />

de que eu estava prevenido”, disse ele; “são mesmo muito mais atrozes do que poderia<br />

suportar por mim mesmo; mas Deus é meu Pai; Ele me proveu e sempre há de prover-me<br />

da força que peço.” -D’Aubigné.<br />

Como nos dias dos apóstolos, a perseguição contribuíra “para maior proveito do<br />

evangelho.” Filipenses 1:12. Expulsos de Paris e Meaux, “os que andavam dispersos iam<br />

por toda a parte, anunciando a Palavra.” Atos 8:4. E assim a luz teve acesso a muitas das<br />

afastadas províncias da França. Deus estava ainda a preparar obreiros para ampliar a Sua<br />

causa. Em uma das escolas de Paris havia um jovem refletido, quieto, e que dava mostras<br />

de espírito robusto e penetrante, e não menos notável pela correção de vida do que pelo<br />

ardor intelectual e devoção religiosa. Seu gênio e aplicação logo o fizeram o orgulho do<br />

colégio, e tinha-se como certo que João Calvino seria um dos mais hábeis e honrados<br />

defensores da igreja. Mas um raio de luz divina penetrou até ao próprio interior das<br />

paredes do escolasticismo e superstição em que se achava Calvino encerrado. Estremeceu<br />

ao ouvir das novas doutrinas, nada duvidando de que os hereges merecessem o fogo a que<br />

eram entregues. Contudo, sem disso se dar conta, foi posto face a face com a heresia, e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!