07.04.2023 Views

A Grande Controvérsia

“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...

“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A <strong>Grande</strong> Controversia<br />

dos meus próprios membros manchado ou infectado com esta detestável podridão, eu o<br />

daria para que vós o cortásseis. ... E, demais, se visse um de meus filhos contaminado por<br />

ela, não o pouparia. ... Eu mesmo o entregaria e sacrificaria a Deus.” As lágrimas<br />

abafaram-lhe as palavras, e toda a assembléia chorou, exclamando em uníssono:<br />

“Viveremos e morreremos pela religião católica!” -D’Aubigné.<br />

Terríveis se tornaram as trevas da nação que rejeitara a luz da verdade. “A graça que<br />

traz a salvação” havia aparecido; mas a França, depois de lhe contemplar o poder e<br />

santidade, depois de milhares terem sido atraídos por sua divina beleza, depois de cidades<br />

e aldeias terem sido iluminadas por seu fulgor,desviou-se,preferindo as trevas à luz.<br />

Haviam repudiado o dom celestial, quando este lhes foi oferecido. Tinham chamado ao<br />

mal bem, e ao bem mal, até serem vítimas voluntárias do próprio engano. Agora, ainda<br />

que efetivamente cressem que, perseguindo ao povo de Deus estavam fazendo a obra<br />

divina, sua sinceridade não os inocentava. A luz que os teria salvo do engano, da mancha<br />

de sua alma pelo crime de sangue, haviam-na voluntariamente rejeitado.<br />

Um juramento solene para extirpar a heresia foi feito na grande catedral, onde, quase<br />

três séculos mais tarde, a “Deusa da Razão” deveria ser entronizada por uma nação que se<br />

tinha esquecido do Deus vivo. Novamente se formou a procissão, e os representantes da<br />

França aprestaram-se a iniciar a obra que haviam jurado fazer. “A pequenas distâncias<br />

haviam-se erigido cadafalsos, nos quais certos cristãos protestantes deveriam ser<br />

queimados vivos, e arranjaram para que as fogueiras fossem acesas no momento em que<br />

o rei se aproximasse e a procissão fizesse alto para testemunhar a execução.” -Wylie. As<br />

minúcias das torturas suportadas por aquelas testemunhas de Cristo são demasiado<br />

dilacerantes para serem descritas; não houve, porém, vacilação por parte das vítimas.<br />

Exigindo-se-lhes retratar-se, um respondeu: “Creio unicamente no que os profetas e<br />

apóstolos anteriormente pregaram, e no que creu toda a multidão dos santos. Minha fé<br />

tem uma confiança em Deus que resistirá a todos os poderes do inferno.” -História da<br />

Reforma no Tempo de Calvino, D’Aubigné.<br />

Repetidas vezes a procissão fazia alto nos lugares de tortura. Atingindo o seu ponto de<br />

partida, no palácio real, a multidão dispersou-se, e o rei e os prelados retiraram-se,<br />

satisfeitos com as realizações do dia, e exprimindo o desejo de que a obra, ora iniciada,<br />

continuasse até à completa destruição da heresia. O evangelho da paz que a França<br />

rejeitara havia de ser efetivamente desarraigado, e terríveis seriam os resultados. No dia<br />

21 de janeiro de 1793, a duzentos e cinqüenta e oito anos do próprio dia em que a França<br />

se entregara inteiramente à perseguição dos reformadores, passou pelas ruas de Paris<br />

outra procissão, com um intuito muito diferente. “De novo era o rei a figura principal;<br />

novamente havia tumultos e aclamações; repetiu-se o clamor pedindo mais vítimas;<br />

reergueram-se negros cadafalsos; e de novo encerraram-se as cenas do dia com horríveis<br />

execuções; Luiz XVI, lutando de mãos com seus carcereiros e executores, era arrastado

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!