A Grande Controvérsia
“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...
“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A <strong>Grande</strong> Controversia<br />
perigo, ele próprio acudiria em seu auxílio. Ouvindo acerca da prisão do reformador, o<br />
fiel discípulo imediatamente se preparou para cumprir a promessa. Sem salvo-conduto,<br />
com um único companheiro, partiu para Constança. Ali chegando, convenceu-se de que<br />
apenas se havia exposto ao perigo, sem a possibilidade de fazer qualquer coisa para o<br />
livramento de Huss. Fugiu da cidade, mas foi preso em viagem para casa e conduzido de<br />
volta em ferros, sob a guarda de um grupo de soldados. Ao seu primeiro aparecimento<br />
perante o concílio, as tentativas de Jerônimo para responder às acusações apresentadas<br />
contra ele eram defrontadas com clamores: “Às chamas! Que vá às chamas!” -<br />
Bonnechose. Foi lançado numa masmorra, acorrentado em posição que lhe causava<br />
grande sofrimento e alimentado a pão e água. Depois de alguns meses, as crueldades da<br />
prisão causaram-lhe uma enfermidade que lhe pôs em perigo a vida, e seus inimigos,<br />
receosos de que ele se lhes pudesse escapar, trataram-no com menos severidade, posto<br />
que permanecesse na prisão durante um ano.<br />
A morte de Huss não deu os resultados que os sectários de Roma haviam esperado. A<br />
violação do salvo-conduto suscitara uma tempestade de indignação, e como meio mais<br />
seguro de agir, o concílio decidiu, em vez de queimar a Jerônimo, obrigá-lo, sendo<br />
possível, a retratar-se. Foi levado perante a assembléia e ofereceuse-lhe a alternativa de<br />
renunciar, ou morrer na fogueira. A morte, no início de sua prisão, teria sido uma<br />
misericórdia, à vista dos terríveis sofrimentos por que passara; mas agora, enfraquecido<br />
pela moléstia, pelos rigores do cárcere e pela tortura da ansiedade e apreensão, separado<br />
dos amigos e desanimado pela morte de Huss, a fortaleza de Jerônimo cedeu, e ele<br />
consentiu em submeter-se ao concílio. Comprometeu-se a aderir à fé católica, e aceitou a<br />
ação do concílio ao condenar as doutrinas de Wycliffe e Huss, exceção feita, contudo, das<br />
“santas verdades” que tinham ensinado. -Bonnechose.<br />
Por este expediente Jerônimo se esforçou por fazer silenciar a voz da consciência e<br />
escapar da condenação. Mas, na solidão do calabouço,viu mais claramente o que havia<br />
feito. Pensou na coragem e fidelidade de Huss, e em contraste refletiu em sua própria<br />
negação da verdade. Pensou no divino Mestre a quem se comprometera a servir, e que<br />
por amor dele suportara a morte de cruz. Antes de sua retratação encontrara conforto, em<br />
todos os sofrimentos, na certeza do favor de Deus; mas agora o remorso e a dúvida lhe<br />
torturavam a alma. Sabia que ainda outras retratações haveria a fazer antes que pudesse<br />
estar em paz com Roma. O caminho em que estava entrando apenas poderia terminar em<br />
completa apostasia. Sua resolução estava tomada: não negaria ao Senhor para escapar de<br />
um breve período de sofrimento.<br />
Logo foi ele novamente levado perante o concílio. Sua submissão não satisfizera aos<br />
juízes. Sua sede de sangue, aguçada pela morte de Huss, clamava por novas vítimas.<br />
Apenas renunciando à verdade, sem reservas, poderia Jerônimo preservar a vida.<br />
Decidira-se, porém, a confessar sua fé e seguir às chamas seu irmão mártir. Renunciou à