07.04.2023 Views

A Grande Controvérsia

“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...

“Rejeitemos esse decreto”, disseram os príncipes. “Em assuntos de consciência, a maioria não tem poder.” Proteger a liberdade de consciência é dever do Estado, e isto é o limite de sua autoridade em matéria de religião. Todo governo secular que tente legislar sobre observâncias religiosas, ou impô-las pela autoridade civil, está a sacrificar o próprio princípio pelo qual muitas pessoas tão nobremente lutaram. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira foi um testemunho solene contra a intolerância religiosa, e uma afirmação do direito de todos os homens de adorarem a Deus segundo os ditames de sua própria consciência...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A <strong>Grande</strong> Controversia<br />

tua alma; e, acima de tudo, dá teu cuidado ao edifício espiritual. Sê piedoso e humilde<br />

para com os pobres; e não consumas teus haveres em festas. Se não corrigires tua vida e<br />

te refreares das superfluidades, temo que sejas severamente castigado, como eu próprio o<br />

sou. ... Conheces minha doutrina, pois recebeste minhas instruções desde tua meninice; é-<br />

me, portanto, desnecessário escrever-te mais a respeito. Mas conjuro-te, pela misericórdia<br />

de nosso Senhor, a não me imitares em nenhuma das vaidades em que me viste cair.” No<br />

invólucro da carta acrescentou: “Conjuro-te, meu amigo, a não abrires esta carta antes<br />

que tenhas a certeza de que estou morto.” -Bonnechose.<br />

Em sua viagem, Huss por toda parte observou indícios da disseminação de suas<br />

doutrinas e o favor com que era considerada sua causa. O povo aglomerava-se ao seu<br />

encontro, e em algumas cidades os magistrados o escoltavam pelas ruas. Chegado a<br />

Constança, concedeu-se a Huss plena liberdade. Ao salvo-conduto do imperador<br />

acrescentou-se uma garantia pessoal de proteção por parte do papa. Mas, com violação<br />

destas solenes e repetidas declarações, em pouco tempo o reformador foi preso, por<br />

ordem do papa e dos cardeais, e lançado em asquerosa masmorra. Mais tarde foi<br />

transferido para um castelo forte além do Reno e ali conservado prisioneiro. O papa,<br />

pouco lucrando com sua perfídia, foi logo depois entregue à mesma prisão. -Bonnechose.<br />

Provara-se perante o concílio ser ele réu dos mais baixos crimes, além de assassínio,<br />

simonia e adultério -“pecados que não convém mencionar.” Assim o próprio concílio<br />

declarou; e finalmente foi ele despojado da tiara e lançado na prisão. Os antipapas<br />

também foram depostos, sendo escolhido novo pontífice.<br />

Se bem que o próprio papa tivesse sido acusado de maiores crimes que os de que Huss<br />

denunciara os padres, e contra os quais exigira reforma, o mesmo concílio que rebaixou o<br />

pontífice tratou também de esmagar o reformador. O aprisionamento de Huss despertou<br />

grande indignação na Boêmia. Nobres poderosos dirigiram ao concílio protestos<br />

veementes contra o ultraje. O imperador, a quem repugnava permitir a violação de um<br />

salvo-conduto, opôs-se ao processo que lhe era movido. Mas os inimigos do reformador<br />

eram maus e decididos. Apelaram para os preconceitos do imperador, para os seus<br />

temores, seu zelo para com a igreja. Aduziram argumentos de grande extensão para<br />

provar que “não se deve dispensar fé aos hereges, tampouco a pessoas suspeitas de<br />

heresia, ainda que estejam munidas de salvo-conduto do imperador e reis.” -História do<br />

Concílio de Constança, de Lenfant. Assim, prevaleceram eles.<br />

Enfraquecido pela enfermidade e reclusão, pois que o ar úmido e impuro do<br />

calabouço lhe acarretara uma febre que quase o levara à sepultura, Huss foi finalmente<br />

conduzido perante o concílio. Carregado de cadeias, ficou em pé na presença do<br />

imperador, cuja honra e boa fé tinham sido empenhadas em defendê-lo. Durante o longo<br />

processo manteve firmemente a verdade, e na presença dos dignitários da Igreja e Estado,<br />

em assembléia, proferiu solene e fiel protesto contra as corrupções da hierarquia. Quando

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!