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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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Por bem ou por mal, segundo prevê D. Edmundo Kunz, Bispo Auxiliar <strong>de</strong> Porto Alegre, o<br />

qual afirma que sem a participação maciça das forças populares, a or<strong>de</strong>m social, econômica e<br />

política lançará a Nação ao abismo. ‘Se não acontecerem mudanças profundas, estaremos à mercê<br />

<strong>de</strong> grave convulsão social’ (“Zero Hora”, Porto Alegre, 30-6-87).<br />

Capítulo VI – As entida<strong>de</strong>s representativas das classes<br />

empresariais não manifestaram a amplidão <strong>de</strong> vistas nem a <strong>de</strong>senvoltura<br />

requeridas no momento histórico que o País atravessa<br />

1 . Em face <strong>de</strong> uma esquerda <strong>de</strong>cidida e organizada, centristas e liberais<br />

<strong>de</strong>sarticulados e otimistas<br />

Os trabalhos da Constituinte, conforme se infere do noticiário da imprensa, não parecem ter<br />

interessado seriamente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, as entida<strong>de</strong>s representativas das classes empresariais. Segundo<br />

Nertam Macedo, <strong>de</strong> “O Estado <strong>de</strong> S. Paulo” (23-4-87), nenhuma força hábil que represente os grupos<br />

ligados à economia <strong>de</strong> mercado tem mostrado sua presença. Há uma omissão geral no que tange à<br />

preservação das instituições, da livre empresa e da proprieda<strong>de</strong> privada.<br />

O ex-presi<strong>de</strong>nte do Banco Central, Carlos Brandão, já se lamentara, em artigo para o “O<br />

Estado <strong>de</strong> S. Paulo” (12-4-87), que grupos socializantes ou estatizantes vêm, <strong>de</strong> há muito, se<br />

articulando e organizando para, <strong>de</strong>ntro das franquias que a <strong>de</strong>mocracia permite, dilatar sua esfera<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Pelo contrário, a classe empresarial não tem tomado nenhuma provi<strong>de</strong>ncia visando<br />

recuperar o tempo perdido, pois não colocou, até agora, à disposição da Assembléia Constituinte<br />

sugestões concretas <strong>de</strong> textos constitucionais. ... A classe empresarial não tem utilizado seu gran<strong>de</strong><br />

potencial <strong>de</strong> reação para evitar a consolidação <strong>de</strong> um regime político que contraria as tradições<br />

históricas do povo brasileiro.<br />

Aliás, observa o ex-presi<strong>de</strong>nte do Banco Central, no mesmo artigo, o lobby empresarial está<br />

apenas voltado para os interesses setoriais, sem qualquer tipo <strong>de</strong> proposta envolvendo, <strong>de</strong> forma<br />

abrangente, todos os aspectos da or<strong>de</strong>m Econômica e Social ao contrário do que vêm fazendo por<br />

exemplo, o PT, o PCB e o PC do B, que apresentaram, cada um, um conjunto completo <strong>de</strong> propostas<br />

para a Constituinte (cfr. Parte III, Cap. IV, 3).<br />

Essa omissão é <strong>de</strong>scrita em editorial <strong>de</strong> “O Estado <strong>de</strong> S. Paulo” (5-7-87), nos seguintes<br />

termos: Da história que se escreverá sobre a passagem <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> livre para outra<br />

subordinada ao monstro burocrático, <strong>de</strong>verá constar necessariamente a forma <strong>de</strong>scuidada como se<br />

conduziram as fe<strong>de</strong>rações estaduais e a Confe<strong>de</strong>ração das Indústrias diante do problema da<br />

elaboração da futura Constituição... Surpreen<strong>de</strong>u o <strong>de</strong>putado-relator [Cabral] a distância dos<br />

empresários em relação aos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte. Impressão que não é<br />

apenas sua, mas também do presi<strong>de</strong>nte Nacional das Indústrias, senador Albano Franco! ... Da<br />

direita francesa – uma convicção ordinária séria – dizia-se que era bête. Talvez até tivesse sido –<br />

mas sempre foi organizada. Que dizer dos empresários brasileiros? ... Se os empresários quisessem<br />

<strong>de</strong> fato ir ao fundo das coisas.... <strong>de</strong>veriam, antes <strong>de</strong> mais nada, pensar que a classe capitalista<br />

brasileira ou é nacional, ou será fragmentada e batida em cada Estado pelas forças que a querem<br />

<strong>de</strong>struída.<br />

Essa falta <strong>de</strong> empuxo é tão notória, que o presi<strong>de</strong>nte da Fe<strong>de</strong>ração das Associações<br />

Comerciais do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, César Rogério Valente, pô<strong>de</strong> afirmar que a minoria <strong>de</strong> esquerda<br />

está dando <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> mais eficiência, mais trabalho <strong>de</strong> mobilização. Eles estão mais<br />

agressivos e a representação do centro e <strong>de</strong> direita não está conseguindo reverter a tendência (“O<br />

Estado <strong>de</strong> S. Paulo”, 28-5-87).<br />

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