1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
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A reunião entre dom Ivo Lorscheiter, presi<strong>de</strong>nte da Conferência Nacional dos bispos do<br />
Brasil (CNBB) e cerca <strong>de</strong> 90 parlamentares, para <strong>de</strong>bater as propostas da Igreja católica ..., acabou<br />
se transformando na sessão noturna da Assembléia Constituinte.<br />
Não faltou nenhum dos ingredientes <strong>de</strong> plenário: votação, pinga-fogo, campainha para<br />
conter os mais entusiasmados, bate-boca, proselitismo na tribuna e – reeditando as recentes<br />
discussões do Congresso Nacional – propostas para formação <strong>de</strong> comissões e subcomissões<br />
temáticas.<br />
O convite <strong>de</strong> dom Ivo Lorscheiter, resi<strong>de</strong>nte da CNBB, foi aceito por um grupo eclético e<br />
suprapartidário. Havia <strong>de</strong> tudo: um ex-padre (senador Mansueto Lavor, PMDB-PE), uma ex-freira<br />
(<strong>de</strong>putada Irma Passoni, PT-SP), um ex-guerrilheiro (<strong>de</strong>putado José Genoíno, PT-SP), uma ex-presa<br />
política (<strong>de</strong>putada Moema São Thiago, PDT-CE) e um ex-pe<strong>de</strong>ssista (A<strong>de</strong>mar <strong>de</strong> Barros Filho, PDT-<br />
SP). Ao senador ‘católico apostólico romano’, Meira Filho (PMDB-DF), coube o papel <strong>de</strong><br />
implacável controlador dos três minuto, para a fala <strong>de</strong> cada político.<br />
Além <strong>de</strong>sses encontros semanais, a CNBB está programando um café da manhã semanal<br />
com os constituintes que queiram discutir as teses propostas pela Igreja na se<strong>de</strong> da entida<strong>de</strong>, em<br />
Brasília (“O Estado <strong>de</strong> S. Paulo”, 12-2-87).<br />
A CNBB organizou ainda um serviço informativo radiofônico e um noticiário via telex para<br />
manter os ouvintes e instituições católicas informados sobre o que se passa na Constituinte.<br />
Nesse sentido, a “Folha <strong>de</strong> S. Paulo” (24-2-87) informa: A CNBB começa a utilizar, a partir<br />
<strong>de</strong> hoje, um canal <strong>de</strong> rádio cedido pela Embratel para a transmissão <strong>de</strong> um boletim diário sobre o<br />
Congresso constituinte. Gerado em Brasília, o boletim será transmitido para as rádios Aparecida,<br />
<strong>de</strong> Aparecida (SP), e Difusora <strong>de</strong> Goiânia (GO), das 18h30 às 20h. através <strong>de</strong>stas emissoras, o<br />
boletim será retransmitido para as 103 rádios católicas <strong>de</strong> todo o país. Um outro informativo da<br />
Igreja sobre o Congresso constituinte está sendo retransmitido periodicamente, via telex, para 73<br />
instituições ligadas à CNBB.<br />
É claro que esses programas não são apenas noticiosos. Eles servem também para exercer<br />
pressão em favor das propostas da CNBB, e difundir prognósticos sombrios, caso as reformas<br />
sócio-políticas-econômicas preconizadas pela entida<strong>de</strong> não sejam realizadas.<br />
Assim, em documento enviado pela CNBB a todas as Dioceses brasileiras, se afirma que se<br />
não houver, urgentemente, uma gran<strong>de</strong> mobilização popular em torno <strong>de</strong> objetivos políticos bem<br />
concretos, que signifiquem a retomada dos avanços conseguidos com a campanha das diretas (1984),<br />
o país corre o grave risco <strong>de</strong> um retrocesso (“Folha <strong>de</strong> S. Paulo”, 27-3-87).<br />
Em que sentido sejam esses avanços, nenhum brasileiro, hoje em dia, po<strong>de</strong> ter dúvida, dado<br />
o caráter inequivocamente reformista dos pronunciamentos do nosso máximo organismo episcopal.<br />
Aliás, não faltaram, neste período, <strong>de</strong>clarações agro-reformistas <strong>de</strong> próceres da CNBB.<br />
Por exemplo, D. Luciano Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almeida <strong>de</strong>clarou, em Itaici, que a reivindicação <strong>de</strong><br />
eleições diretas <strong>de</strong>ve vir inserida no bojo da nova Constituição. Observou, porém, que não se <strong>de</strong>ve<br />
privilegiar esta questão e esquecer outras que consi<strong>de</strong>ra prioritárias, como a reforma agrária, a<br />
moradia e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se proporcionar mais oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego à população (“O Estado<br />
<strong>de</strong> S. Paulo”, 29-4-87).<br />
D. Celso Queiroz, Secretário-Geral da CNBB, manifestou-se inconformado com um<br />
pequeno recuo que, em <strong>de</strong>terminada fase dos trabalhos da Constituinte, houve no tema da Reforma<br />
Agrária: A posição dos constituintes da Subcomissão <strong>de</strong> Reforma Agrária, ao aprovar o relatório,<br />
não po<strong>de</strong> nem ser chamada <strong>de</strong> conservadora. Ela é retrógrada. Seria conservadora se fosse uma<br />
posição capitalista <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma proposta socialista. O que foi aprovado é primitivismo agrário<br />
(“Jornal da Tar<strong>de</strong>”, São Paulo, 29-5-87).<br />
Concomitantemente, religiosos bem vistos pela CNBB têm ido mais longe: No palanque da<br />
primeira Plenária Nacional Popular Pró-Constituinte, armado na principal praça <strong>de</strong> Vitória, Frei<br />
Leonardo Boff pediu a convocação <strong>de</strong> eleições diretas para a Presidência e a <strong>de</strong>rrubada do atual<br />
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