1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
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Disto estavam bem convictos os Constituintes <strong>de</strong> esquerda, que montaram um verda<strong>de</strong>iro<br />
‘assalto’ aos postos-chave das Subcomissões e Comissões temáticas, e sobretudo, como é óbvio, da<br />
Comissão <strong>de</strong> Sistematização, que conduziria o processo nas suas fases mais <strong>de</strong>licadas e <strong>de</strong>cisivas.<br />
Quando a maioria centrista e conservadora se <strong>de</strong>u conta disso, já era tar<strong>de</strong>. Restar-lhe-ia<br />
apenas o consolo <strong>de</strong> chorar no “muro da lamentações”. “O Globo” <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> março p.p. noticia:<br />
Vários coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> bancada do PMDB iniciaram ontem um movimento <strong>de</strong> advertência<br />
ao Lí<strong>de</strong>r do partido na Constituinte, Mário Covas, insatisfeitos diante da ‘acentuada influência da<br />
esquerda’ que i<strong>de</strong>ntificam nas posições do Senador. Eles preten<strong>de</strong>m que as iniciativas <strong>de</strong> Covas<br />
sejam adotadas segundo a linha mo<strong>de</strong>rada que predomina no partido e interessa aos governos<br />
estaduais e Fe<strong>de</strong>ral. ...<br />
[O <strong>de</strong>putado] Expedito [Machado] sustenta que a bancada votou em Covas seduzida pelo<br />
discurso que pregava o fim da centralização <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res nas mãos <strong>de</strong> Ulysses Guimarães, mas<br />
experimenta agora o que ele chama <strong>de</strong> ‘comando xiita’ na condução das negociações para o<br />
preenchimento das vagas nas comissões.<br />
“O Estado <strong>de</strong> S. Paulo” <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> maio confirma:<br />
O senador Mário Covas ... elegeu-se lí<strong>de</strong>r da bancada majoritária na Constituinte<br />
levantando a ban<strong>de</strong>ira da rebeldia e da in<strong>de</strong>pendência em relação aos conchavos da cúpula do<br />
PMDB, mas logo <strong>de</strong>pois, sem auscultar o sentimento da maioria, indicou os relatores <strong>de</strong><br />
subcomissões, fiel a um critério autoritário e vesgo, que privilegiou as minorias <strong>de</strong> esquerda em<br />
<strong>de</strong>trimento da maioria liberal centrista.<br />
O início <strong>de</strong> uma reação contra essa prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong>scabida das esquerdas <strong>de</strong>ve ser visto<br />
com bons olhos, embora haja razões para recear que não tenha prosseguimento. Assim, é com um<br />
misto <strong>de</strong> simpatia e <strong>de</strong> ceticismo que se lê no “O Estado <strong>de</strong> S. Paulo” (16-7-87) a seguinte notícia:<br />
Em palestra para os associados do Sindicato da Indústria <strong>de</strong> Materiais e Equipamentos<br />
Ferroviários e Rodoviários do Estado <strong>de</strong> São Paulo (Simefre), o jurista Ives Gandra da Silva Martins<br />
conclamou ontem os empresários a reforçar o lobby da iniciativa privada na Constituinte ...<br />
‘Esta é uma Constituição <strong>de</strong> um pequeno grupo <strong>de</strong> esquerda que assumiu o controle das 24<br />
subcomissões’, advertiu... Ainda segundo o jurista, ‘os 24 homens <strong>de</strong> Ulysses e Covas (os relatores<br />
das subcomissões) fazem o que bem enten<strong>de</strong>m na Constituinte e não são representativos <strong>de</strong> ninguém’.<br />
Essa esquerdização das Subcomissões e Comissões se manifestou até em <strong>de</strong>talhes, como este<br />
que <strong>de</strong>screve a “Folha <strong>de</strong> S. Paulo” (29-4-87):<br />
A Subcomissão dos Direitos do Trabalhador do Congresso constituinte introduziu uma<br />
mudança na linguagem parlamentar.<br />
Em lugar <strong>de</strong> usar o tradicional tratamento <strong>de</strong> ‘excelência’, os membros da subcomissão<br />
preferem o informal ‘companheiro’, muito utilizado no meio sindical.<br />
Há uma explicação: <strong>de</strong>z dos 22 membros da subcomissão são sindicalista e ex-sindicalistas.<br />
Porém, a influência da esquerda <strong>de</strong>sceu ainda mais fundo. “O Estado <strong>de</strong> S. Paulo” (10-5-87)<br />
põe em realce o fundamento doutrinário dos dispositivos que a esquerda do PMDB quer ver incluídos<br />
em nossa Carta Magna:<br />
As ‘Teses do PMDB’, ... tal como as resume a publicação “Carta Semprel <strong>de</strong> Brasília”, <strong>de</strong><br />
30 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> <strong>1987</strong>, não escon<strong>de</strong>m a ojeriza <strong>de</strong> seus autores em relação à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa.<br />
Segundo o mesmo jornal, o documento po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um verda<strong>de</strong>iro Evangelho da<br />
‘<strong>de</strong>mocracia da pobreza’... O documento é um primor <strong>de</strong> resumo dos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> um certo<br />
distributivismo suicida, pois se prevê como distribuir os bens, mas [sic] se esquece <strong>de</strong> dizer como se<br />
<strong>de</strong>ve produzi-los.<br />
Por isso, a gravida<strong>de</strong> (maior) resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> o documento estar sendo visto como<br />
fundamental em termos <strong>de</strong> ‘doutrina e fé’ e, por isso, se faça presente na maioria das proposições<br />
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