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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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Porém, na perspectiva <strong>de</strong>ste trabalho, também há que consi<strong>de</strong>rar, neste conjunto, o<br />

contributo pon<strong>de</strong>rável dos órgãos locais <strong>de</strong> comunicação. Por exemplo, os que têm por específico<br />

campo <strong>de</strong> ação cida<strong>de</strong>s médias ou pequenas, e as áreas rurais publicitariamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>las.<br />

No Brasil, se po<strong>de</strong> dizer atualmente que esses múltiplos órgãos <strong>de</strong> comunicação social, na<br />

sua globalida<strong>de</strong> pouco se distinguem uns dos outros, do ponto <strong>de</strong> vista i<strong>de</strong>ológico.<br />

Em geral, são ufanamente centristas. Embora, evi<strong>de</strong>ntemente, o grau <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />

qual, respectivamente em relação à esquerda e à direita, varie <strong>de</strong> órgão para órgão. Trata-se aqui,<br />

porém, <strong>de</strong> diferença <strong>de</strong> matizes, <strong>de</strong> pouca monta se comparada com as diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste e <strong>de</strong> outros<br />

gêneros, que é fácil notar na imprensa norte-americana, e sobretudo na européia.<br />

Abstração feita <strong>de</strong>ssa diferença <strong>de</strong> matizes e <strong>de</strong> raras exceções 8 , nossos mass media vivem<br />

dias <strong>de</strong> indiscutível consonância i<strong>de</strong>ológica. O que <strong>de</strong>ixa sem expressão pública muitos setores<br />

minoritários da opinião pública. E empobrece sob vários aspectos o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>mocrático.<br />

É ilustrativa, neste sentido, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pequenos partidos que, favorecendo-se da nova<br />

lei eleitoral <strong>de</strong> 1986, se apresentaram para concorrer às últimas eleições, com o que atingiu a 30 o<br />

total <strong>de</strong> pedidos <strong>de</strong> registro para participar do pleito. Desse total, porém, apenas 18 conseguiram<br />

preencher os requisitos indispensáveis para esse efeito. E, após as eleições, somente os seis partidos<br />

que tiveram votação expressiva – PMDB, PDS, PTB, PFL, PT e PDT – foram registrados<br />

<strong>de</strong>finitivamente. “Os outros 24 nem sequer requereram ao TSE o seu registro provisório” para<br />

funcionarem como partido. Eles “não têm existência jurídica e nenhum <strong>de</strong>les, segundo assessores da<br />

Justiça Eleitoral, tem estrutura para aten<strong>de</strong>r aos requisitos legais para a obtenção do registro<br />

<strong>de</strong>finitivo. Entre esses partidos estão o PL, o PCB, o PC do B, o PDC, o PS, o PSB e o Pasart. Os<br />

eleitos por tais agremiações, <strong>de</strong> acordo com especialistas em legislação eleitoral, terão <strong>de</strong> optar por<br />

novas legendas ou ficar formalmente sem partido” (“O Globo”, 24-11-86; cfr. “Jornal da Tar<strong>de</strong>”, São<br />

Paulo, 2-12-86 e “Jornal do Brasil”, 11-12-86).<br />

Esses grupelhos políticos malogrados merecem um comentário, no momento mesmo em que<br />

imergem novamente no anonimato do qual tentaram evadir-se.<br />

Face ao eleitorado global dos partidos que conseguiram registro, eles fazem sorrir pelo<br />

contraste entre seu porte insignificante e a altura do vôo que temerariamente empreen<strong>de</strong>ram. Que<br />

representam eles <strong>de</strong> efetivo, no Brasil <strong>de</strong> hoje? – Como realida<strong>de</strong> política, mero farelo, simples poeira<br />

que se <strong>de</strong>sagregará ao sopro frio e implacável do insucesso.<br />

Como realida<strong>de</strong> psicológica, fazem pensar...<br />

Com efeito, se se comparar o número global <strong>de</strong> membros efetivos dos diversos partidos<br />

políticos (número este muito inferior ao dos eleitores que afluem às urnas pela pressão da<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> do voto, e não têm remédio senão inscreverem em sua cédula eleitoral algum<br />

candidato <strong>de</strong> partido a que não pertencem), com o número <strong>de</strong> brasileiros em ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> votar, a<br />

<strong>de</strong>sproporção é flagrante. Muitíssimos são os brasileiros que não pertencem nem a<strong>de</strong>rem estavelmente<br />

a partido algum.<br />

Essa abstenção se <strong>de</strong>ve à indiferença política <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>les: a coisa pública pouco ou nada<br />

lhes fala à alma. Mas, ao que tudo indica, a maior parte <strong>de</strong>sse eleitorado não arregimentado opta pela<br />

marginalização partidária, não porque lhe falte interesse pelo bem comum e pelas problemáticas<br />

relacionadas com este, mas por outra razão: é que eles acalentam no fundo da alma anelos, i<strong>de</strong>ais,<br />

sugestões políticas, sociais e econômicas para as quais não encontram nenhum reflexo nos mass<br />

media compactamente homogeneizados.<br />

8<br />

Poucos são os órgãos <strong>de</strong> comunicação social que têm a coragem <strong>de</strong> batalhar em favor <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong>finido<br />

(do qual se po<strong>de</strong> discordar pelo menos em parte) enfrentando por vezes a quase unanimida<strong>de</strong> dos órgãos prepon<strong>de</strong>rantes.<br />

Constitui disto um belo exemplo a revista “Visão”.<br />

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