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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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A participação dos leigos na Igreja aumentou <strong>de</strong>pois da vinda do arcebispo Miguel Fenelon<br />

– hoje ele está em Teresina – e ganhou dimensão nos meios políticos com a cobrança da implantação<br />

da reforma agrária, a conscientização dos negros, o não-pagamento da dívida externa e a proposta<br />

para a implantação <strong>de</strong> um regime semelhante ao da Nicarágua.<br />

A julgar pela notícia, este é um caso <strong>de</strong> êxito real – embora relativo – da esquerda católica.<br />

Mas terá sido i<strong>de</strong>ológico o tema da campanha por ela <strong>de</strong>senvolvida? As metas que lhe atribui o “Jornal<br />

do Brasil” serão realmente as <strong>de</strong> seus eleitores? Sobretudo, quantas <strong>de</strong>ssas exceções terão ocorrido<br />

pelo Brasil afora?<br />

A tais perguntas, o noticiário corrente dos gran<strong>de</strong>s centros não proporcionou resposta.<br />

Parece, entretanto, sumamente provável que, se fossem muito mais numerosas as exceções<br />

como esta, a esquerda festiva estaria batendo em todo o Brasil os pan<strong>de</strong>iros da vitória. Pois organizada<br />

e informada, ela certamente o é. E festiva, mais ainda.<br />

6 . A CNBB se consi<strong>de</strong>ra dona do Brasil?<br />

O otimismo <strong>de</strong> D. Angélico Sândalo Bernardino vai ainda muito além: Se a Igreja quisesse,<br />

diz ele, esse país seria invadido numa questão <strong>de</strong> dias. Somos responsáveis pelo movimento popular<br />

mais vigoroso dos tempos atuais (“Veja”, 9-7-86).<br />

Portanto, para D. Angélico, a CNBB é <strong>de</strong> facto (se bem que não <strong>de</strong> jure, cumpre observar)<br />

dona do Brasil.<br />

Se assim é, resta explicar por que razão a CNBB sofreu tão formidável <strong>de</strong>smentido a suas<br />

esperanças <strong>de</strong> montar uma campanha eleitoral <strong>de</strong>nsa <strong>de</strong> pensamento e rica em projetos audaciosos?<br />

Se a CNBB po<strong>de</strong> tomar conta do País num abrir e fechar <strong>de</strong> olhos, pelo fato <strong>de</strong> que ela seria<br />

a fundadora e mentora do maior movimento popular <strong>de</strong> nosso tempo, é o caso <strong>de</strong> perguntar por que<br />

não efetuou pressões <strong>de</strong> bastidor e <strong>de</strong> praça pública que coroassem <strong>de</strong> sucesso as invasões <strong>de</strong> terras,<br />

promovidas ou favorecidas por sacerdotes nas mais diversas latitu<strong>de</strong>s do País?<br />

Por que – pergunta-se – bastou a TFP difundir em todo o Brasil os pareceres dos professores<br />

Silvio Rodrigues e Orlando Gomes, justificando a legítima <strong>de</strong>fesa dos proprietários rurais contra as<br />

hordas agro-reformistas, para que estas últimas cessassem os esbulhos em série que vinham operando<br />

em todo o País?<br />

Estas são questões que, mais proximamente ou menos, se relacionam todas com a<br />

representativida<strong>de</strong> das últimas eleições.<br />

Capítulo VII – Atuação limitada e concessiva das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

classe<br />

Participando da <strong>de</strong>primida inércia que se generalizou no País a propósito do pleito-semidéias<br />

<strong>de</strong> 1986, quase todas as principais associações <strong>de</strong> classe não souberam <strong>de</strong>senvolver a tempo<br />

um trabalho <strong>de</strong> esclarecimento doutrinário que mostrasse à população os benefícios <strong>de</strong>correntes, para<br />

o bem comum, da aplicação dos princípios da proprieda<strong>de</strong> privada e da livre iniciativa (consi<strong>de</strong>rados,<br />

é claro, também na perspectiva <strong>de</strong> sua importante função social). E – o que é mais grave – as referidas<br />

associações se mostraram, em vários casos, indiferentes, quando não <strong>de</strong>magogicamente simpáticas,<br />

em presença <strong>de</strong> graves transgressões <strong>de</strong>sses princípios, as quais têm <strong>de</strong>corrido muito naturalmente da<br />

aplicação das reformas sócio-econômicas, ora em curso.<br />

1 . Associações representativas da indústria e do comércio<br />

Associações representativas do comércio e da indústria, propugnando embora a limitação<br />

dos po<strong>de</strong>res do Estado na economia, e um regime <strong>de</strong> livre iniciativa e <strong>de</strong> economia <strong>de</strong> mercado,<br />

baseado no direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>senvolveram contudo, junto ao gran<strong>de</strong> público, uma atuação<br />

suficientemente ampla e assídua <strong>de</strong> maneira a tornar patente aos olhos do País inteiro a legitimida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sses princípios, e a conveniência <strong>de</strong>les para o bem comum.<br />

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