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1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país

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Entretanto, a euforia causada pela “vitória” do Substitutivo Rosa Prata foi muito mais<br />

discreta em outros meios também centristas. Pois afirmou o <strong>de</strong>putado Cardoso Alves (PMDB-SP),<br />

ligado aos fazen<strong>de</strong>iros, que, com essa vitória, “se os representantes dos gran<strong>de</strong>s proprietários rurais<br />

não estão totalmente felizes, pelo menos estão ‘mais tranqüilos e menos assustados’” (“O Globo”,<br />

26-5-87).<br />

2 . A reativida<strong>de</strong> especial dos produtores rurais<br />

Apesar <strong>de</strong> tantas omissões e atitu<strong>de</strong>s marcadas por um mo<strong>de</strong>rantismo pronunciadamente<br />

concessivo (cfr. Parte II, Cap. VI), a classe empresarial mais reativa e empreen<strong>de</strong>dora ainda tem sido<br />

a dos ruralistas.<br />

Essa reativida<strong>de</strong> se mostrou muito viva na manifestação realizada pelos agricultores em<br />

Brasília, a 12 <strong>de</strong> fevereiro do corrente ano, promovida pela Frente Ampla da Agropecuária Brasileira<br />

e pela UDR. Foi ela tão superior ao que se po<strong>de</strong>ria imaginar, que chegou a surpreen<strong>de</strong>r o Governo e<br />

os próprios promotores do encontro (cfr. “Jornal do Brasil”, 13-2-87). De algum modo preparou ela<br />

a manifestação muito mais ampla do dia 11 <strong>de</strong> julho.<br />

Na raiz <strong>de</strong>ssa reativida<strong>de</strong> 35 está o profundo <strong>de</strong>scontentamento da classe rural, que é assim<br />

<strong>de</strong>scrito pelo “Jornal do Brasil” (14-2-87): “O interior está sendo <strong>de</strong>sestruturado, e seu brado <strong>de</strong><br />

alerta é exatamente contra a enorme bagunça em que se transformou a política agrícola do país.<br />

Não é mais possível escon<strong>de</strong>r os erros técnicos, um <strong>de</strong>trás do outro, dos responsáveis pelos sistemas<br />

<strong>de</strong> preços mínimos, pelo crédito rural e pela assim chamada política <strong>de</strong> Reforma Agrária”.<br />

Como, concretamente, se manifestou a reativida<strong>de</strong> dos produtores rurais na concentração <strong>de</strong><br />

Brasília, em fevereiro último? Ela se assinalou sobretudo na vitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrada pelo auditório<br />

ao rejeitar li<strong>de</strong>ranças concessivas, em vigorosa seqüência <strong>de</strong> vaias e aclamações. Não foram poupadas<br />

nem as li<strong>de</strong>ranças antigas, como a <strong>de</strong> Flávio Brito, presi<strong>de</strong>nte da Confe<strong>de</strong>ração Nacional da<br />

Agricultura, “impedido <strong>de</strong> falar por uma sonora vaia <strong>de</strong> vários minutos”(“O Estado <strong>de</strong> S. Paulo”,<br />

13-2-87), nem políticos como o senador Severo Gomes que “tentou falar, mas a assembléia <strong>de</strong><br />

produtores vaiou forte, insistiu e ele não teve outra alternativa do que <strong>de</strong>ixar o microfone e em<br />

seguida sair da tribuna” (“O Estado <strong>de</strong> S. Paulo”, 13-2-87). “Mesmo o campeão nacional <strong>de</strong> votos,<br />

senador Mário Covas, não conseguiu falar” (“O Estado <strong>de</strong> S. Paulo”, 13-2-87).<br />

Um <strong>de</strong>talhe que a imprensa não registrou: nessa ocasião, o sr. Salvador Farina, vicepresi<strong>de</strong>nte<br />

nacional da UDR, pediu ao público que ouvisse o senador Covas, apresentando-o como<br />

membro da Frente Parlamentar pela Agricultura. Esta atitu<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> causar estranheza, uma<br />

vez que o Senador Covas é um esquerdista notório. Só então pô<strong>de</strong> este dizer algumas palavras.<br />

Entretanto, as li<strong>de</strong>ranças rurais não chegaram a aproveitar essa excelente ocasião, como<br />

podiam. E, assim, não chegaram a <strong>de</strong>ixar patente ao Governo toda a extensão do <strong>de</strong>scontentamento<br />

da classe. Em concreto, o congresso não tomou uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidida contra a Reforma Agrária. Nem<br />

35<br />

Como fator <strong>de</strong>sse estado <strong>de</strong> espírito dos produtores rurais, seria impossível omitir a ação da TFP. Como é<br />

geralmente sabido, esta não constitui uma associação <strong>de</strong> classe, e, em conseqüência, só aci<strong>de</strong>ntalmente se tem pronunciado<br />

contra o caos realmente ruinoso da política agrícola a que tem estado sujeito o País.<br />

No campo a que especificamente se <strong>de</strong>dica, isto é, o da <strong>de</strong>fesa doutrinária das três pilastras da civilização cristã,<br />

que são a Tradição, a Família e a Proprieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> sua fundação (1960) até o presente, a TFP não tem cessado<br />

<strong>de</strong> combater a Reforma Agrária socialista e confiscatória. E ainda agora acaba <strong>de</strong> lançar uma obra que <strong>de</strong>nuncia o agroreformismo<br />

como um flagelo não só dos proprietários rurais, mas dos próprios trabalhadores. Trata-se do livro do<br />

advogado Atílio Guilherme Faoro, Reforma Agrária: “terra prometida”, favela rural ou “kolkhozes”? – Mistério que a<br />

TFP <strong>de</strong>svenda, Editora Vera Cruz, São Paulo, <strong>1987</strong>, 198 pp.<br />

Por análogos motivos, vem a TFP alertando também os proprietários <strong>de</strong> empresas e imóveis urbanos contra o<br />

perigo do reformismo fundiário urbano, e do reformismo empresarial, corolários do agro-reformismo (cfr. adiante<br />

Proposta da TFP, tópico 3).<br />

Essa posição tem valido, aliás, à TFP, a hostilida<strong>de</strong> contínua e por vezes tempestuosa, das diversas correntes<br />

reformistas.<br />

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