1987 - Projeto de Constituiçao angustia o país
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“De acordo com o sistema adotado pela Mesa, o projeto inteiro está na or<strong>de</strong>m do dia e os<br />
oradores inscritos para um espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, po<strong>de</strong>m falar sobre o que bem enten<strong>de</strong>rem. Assim, um<br />
fala sobre presi<strong>de</strong>ncialismo; outro sobre a pena <strong>de</strong> morte; um terceiro sobre a criação do Estado <strong>de</strong><br />
Tocantins; um quarto sobre a reforma agrária; e <strong>de</strong>sse modo fragmentado, até o oitavo orador.<br />
“Obviamente, não há quem siga um <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> tal maneira dispersivo. Por isso, os<br />
constituintes não comparecem.<br />
“Em resumo: não está havendo <strong>de</strong>bate. ...<br />
“Democracia é ... plenário cheio, <strong>de</strong>nso, tenso, galeria repleta, li<strong>de</strong>ranças presentes,<br />
apartes e contra-apartes, ‘pegas’ entre expoentes <strong>de</strong> várias correntes” (“Folha <strong>de</strong> S. Paulo”, 24-7-<br />
87).<br />
Para o <strong>de</strong>putado do PT isso só se conseguiria com a “adoção <strong>de</strong> um cronograma <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates<br />
por temas”, em vez do “monótono pinga-fogo” (“Correio Braziliense”, 23-8-87).<br />
Por isso ele e outros <strong>de</strong>putados pressionaram a Mesa da Constituinte, a qual <strong>de</strong>cidiu convocar<br />
“nove sessões extraordinárias noturnas, cada qual <strong>de</strong>stinada à discussão <strong>de</strong> um tema polêmico.<br />
“A primeira sessão extraordinária noturna ... parecia a comprovação da tese <strong>de</strong> Plinio: no<br />
plenário cheio, era possível encontrar uma inédita concentração <strong>de</strong> ‘estrelas’, que raríssimas vezes<br />
aparecem por lá ....<br />
“As sessões noturnas que se seguiram, porém, mostraram que a maioria dos constituintes<br />
havia ido à primeira, muito mais atraídas pela novida<strong>de</strong> que pela expectativa <strong>de</strong> assistir a um<br />
autêntico <strong>de</strong>bate constitucional” (Catarina Guerra, “Correio Braziliense”, 23-8-87).<br />
Suce<strong>de</strong> que, segundo Newton Rodrigues, editorialista da “Folha <strong>de</strong> S. Paulo” (3-8-87), está<br />
sendo “jogado pelos grupos ‘interpartidário’, ‘<strong>de</strong> consenso’, ‘dos 32’, ‘<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rados’, ‘<strong>de</strong> relatores<br />
do Prodasen’ e <strong>de</strong> quantos mais se organizaram fora do plenário para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r interesses comuns<br />
ou fazer avançar o trabalho”.<br />
O Grupo dos 32 “formou-se à partir da elaboração do Anteprojeto <strong>de</strong> Constituição<br />
apresentado pelo relator Bernardo Cabral. É li<strong>de</strong>rado pelo senador José Richa (PMDB-PR) e<br />
engloba parlamentares do PMDB, PDS, PDT e PFL. Tem tendências <strong>de</strong> centro (mo<strong>de</strong>rado), sem ser<br />
conservador. É visto com bons olhos por Bernardo Cabral e apresentou o substitutivo <strong>de</strong>nominado<br />
projeto Hércules. Recebeu o nome <strong>de</strong> Grupo dos 32 por contar com a participação <strong>de</strong> 32<br />
constituintes” (“O Estado”, Florianópolis, 23-8-87).<br />
O grupo do consenso, que se reúne na Biblioteca da Câmara dos Deputados, é coor<strong>de</strong>nado<br />
pelo antigo secretário <strong>de</strong> Estado do Governo Richa, do Paraná, <strong>de</strong>putado Eucli<strong>de</strong>s Scalco (PMDB-<br />
PR). Ele é “<strong>de</strong> esquerda (esquerda católica), .... amigo dos bispos, interlocutor constante da CNBB<br />
e dos padres perseguidos na ditadura” (Freitas Nobre, “Jornal da Tar<strong>de</strong>”, São Paulo, 20-8-87).<br />
O grupo do consenso “reúne parlamentares do PMDB <strong>de</strong> esquerda, em geral ligados ao<br />
senador Mário Covas. Promoveu algumas reuniões em conjunto com o grupo do senador José Richa,<br />
discutindo propostas que sejam consensuais para a nova Constituição. Neste caso, excluem-se<br />
questões como o mandato presi<strong>de</strong>ncial, sistema <strong>de</strong> governo e reforma agrária. Agrupa cerca <strong>de</strong> 15<br />
parlamentares” (“O Estado”, Florianópolis, 23-8-87).<br />
A constituição <strong>de</strong>sses grupos suprapartidários tem implicado, não raro, em verda<strong>de</strong>ira<br />
miscelânea i<strong>de</strong>ológica.<br />
Assim, por exemplo, “o lí<strong>de</strong>r do PCB no Congresso constituinte, <strong>de</strong>putado Roberto Freire,<br />
é um dos articuladores <strong>de</strong> um grupo que inclui Guilherme Afif Domingos (PL), Israel Pinheiro Filho<br />
(PMDB), Virgílio Távora e outros integrantes do bloco ‘conservador’, para, juntos, elaborarem um<br />
substitutivo ao projeto constitucional que serve <strong>de</strong> base para os <strong>de</strong>bates em plenário. O fato é<br />
indicador da confusão que envolve os conceitos <strong>de</strong> ‘progressista’ e ‘conservador’ que, <strong>de</strong> modo algo<br />
simplista, a imprensa adotou para <strong>de</strong>finir os dois gran<strong>de</strong>s grupos em confronto no Congresso<br />
constituinte.<br />
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